Todo o conteúdo deste artigo é apenas para fins informativos, é de natureza geral e não considera ou aborda quaisquer circunstâncias individuais e não é um conselho de investimento, nem deve ser interpretada de forma alguma como consultoria tributária, contábil, jurídica, comercial, financeira ou regulatória.

Ethereum é um protocolo que se autodenomina descentralizado, é focado na criação de aplicações descentralizadas utilizando contratos inteligentes.

Além disso, iniciou com o mecanismo de consenso Proof Of Work (PoW) e migrou para Proof Of Satke (PoS) através de hard forks programados. Apesar de insiders e entusiastas garantirem que as aplicações em ethereum funcionam sem qualquer possibilidade de censura, fraude ou interferência de terceiros e que os contratos são imutáveis, não é o que observamos na prática.

Portanto, esse relatório tem o objetivo de trazer luz à falsa descentralização de Ethereum e pontua seus principais riscos e pontos de falha.

Vamos lá?!

Como Ethereum foi criado?

Ethereum foi criado em 2013, quando Vitalik Buterin lançou seu yellow paper, onde estava descrito como iria funcionar o projeto.

Na sequência, em 2014, a Fundação Ethereum foi criada na Suíça e o plano de fazer um ICO, uma espécie de crowdfunding para financiar o projeto, foi a público.

O que chama atenção nesse processo é que cerca de 70% dos ethers foram pré-minerados para serem vendidos no ICO.

Até hoje, 60% dos ethers que existem em circulação foram emitidos nesse momento anterior ao primeiro bloco ser minerado, dos cerca de 119 milhões de eth que existem hoje, 72 milhões foram criados antes do bloco genesis.

Ou seja, só 40% do ethers circulantes hoje foram criados através de proof of work, 60% foi criado do nada, sem nenhum custo de emissão, da mesma forma que os bancos centrais imprimem dinheiro do nada e sem custo algum.

A imagem abaixo demonstra essa diferença antes do protocolo migrar para PoS no site etherscan.io. Em azul, temos a quantidade de tokens que foram criados via pré-mineração, enquanto em preto estão os tokens criados através de PoW.

Tokens criados na rede Ethereum antes da migração para PoS

O ponto crítico em ter pré-mineração e distribuição desses tokens para insiders é que torna o lançamento do Ethereum totalmente injusto, beneficia assimetricamente insiders do projeto.

Dos tokens pré-minerados, aproximadamente 17% acabaram nas mãos da Fundação Ethereum, ou seja, dos fundadores e “contribuidores” do protocolo.

Fundadores Ethereum

No artigo abaixo, já removido do ar, da The Block fica evidente a sequência de eventos e como insiders de Ethereum se beneficiaram de forma desproporcional durante sua criação.

Artigo da The Block, sobre Ethereum

Dos 72 milhões de ETH pré-minerados, 60 milhões foram destinados ao ICO, e 12 milhões foram distribuídos entre os insiders do projeto da seguinte maneira:

  • 3 milhões para a Ethereum Foundation
  • 6 milhões para 85 contribuidores
  • 3 milhões como direito dos desenvolvedores comprarem no ICO (50 pessoas)
  • 550 mil para o Vitalik
  • 300 mil para outros 7 cofundadores (Anthony Diiorio, Charles Hoskinson, Amir Chetrit, Mihai Alisie, Joseph Lubin, Gavin Wood e Jeffrey Wilcke).

A imagem abaixo ilustra a distribuição atual dos ethers, destacando como os tokens pré-minerados no início da rede ainda representam a maioria. Apenas os componentes PoW e PoS correspondem aos ETHs criados por meio de trabalho ou validação da cadeia.

Distribuição dos Ethers

Além disso, em um evento posterior ao lançamento da DAO, 14% dos ETH ficaram sob custódia dessa organização. A Maker DAO foi posteriormente hackeada, e um hard fork foi realizado para reverter o roubo.

Falaremos mais detalhadamente sobre esse evento mais adiante neste artigo.

Pré-mineração

A pré-mineração beneficiou esses contribuidores iniciais, sendo uma abordagem semelhante ao lançamento de ações de uma empresa, onde os sócios fundadores e investidores iniciais já possuem uma parcela significativa do negócio desde o início.

Essa distribuição inicial, sem proof of work, torna-se mais crítica à medida que o projeto transita para o proof of stake com a fusão conhecida como The Merge.

O quanto essas entidades terão de influência sobre a rede, considerando que a quantidade de moedas determina o poder de validação de cada bloco?

Além da distribuição de tokens proporcionar uma fatia inicial para insiders, as vendas no ICO parecem ter sido bastante direcionadas.

Na imagem abaixo, observe como os ethers fluíram de maneira precisa por duas semanas consecutivas, sem oscilações nas vendas, quedas e picos de demanda, como é comum em qualquer crowdfunding.

Gráfico da pré venda dos Ethers

As compras aleatórias de early adopters de uma nova tecnologia geralmente apresentam um comportamento diferente. Pode indicar um fluxo direcionado para uma pessoa ou grupo específico, como relatou Preston Byrne em seu artigo.

O gráfico deveria seguir um padrão mais semelhante às imagens de crowdfunding no Kickstarter, com oscilações de demanda naturais do processo, como mostrado no exemplo em azul abaixo.

Gráfico de Crowdfunding

Isso leva a crer que os tokens emitidos fluíram diretamente para carteiras já pré-determinadas antes do lançamento e não por uma demanda natural que tem oscilações.

Diferença em relação ao Bitcoin

Essa é uma grande diferença em relação ao Bitcoin.

Satoshi publicou o whitepaper publicamente, e qualquer pessoa poderia copiá-lo. Não houve pré-mineração, cada BTC só pode ser criado por meio de proof of work, ou seja, trabalho real.

Portanto, não houve pré-mineração com distribuição prévia de moedas para insiders, investidores, desenvolvedores ou fundações e não é sequer possível gastar os primeiros BTC do bloco gênesis, pois eles não têm UTXO.

O Bitcoin foi criado de maneira justa, onde para se beneficiar do sistema, é necessário mostrar trabalho e seguir as regras que todos seguem, sem exceção.

A estreita relação do JP MORGAN com Ethereum

Outra treta é o JP Morgan entranhado no protocolo desde o início. O próprio Joseph Lubin, um dos fundadores de Ethereum admitiu:

“Mesmo antes de o primeiro bloco Ethereum ser minerado e a ConsenSys ser formada, nós colaboramos com o J.P. Morgan na criação do Ethereum.”

Joseph Lubin

Como pode ser descentralizado se um banco do tamanho do JP Morgan estava envolvido desde o dia zero? Essa fala está até hoje no site da Consensys, uma empresa que desenvolve softwares para Ethereum.

Joseph Lubin não escondeu de ninguém essa estreita relação do Ethereum com bancos tradicionais do sistema financeiro desde o início.

Confira nos vídeo abaixo as várias vezes que fundadores de Ethereum declararam vínculo com grandes bancos:

Outro ponto preocupante é o risco de captura regulatória. Isso pode acontecer de diversas formas. Mas Vitalik não parece estar preocupado pois ele vem falando com bancos centrais há muito tempo.

Emissão infinita de ethers replica as moedas fiats

Não há um limite para a quantidade de ethers que podem ser criados.

Assim, andam chamando ether de “ultrasound money” porque o protocolo queima tokens das taxas de transação com o objetivo de tornar ether mais escasso.

Essa prática teve início em uma atualização recente chamada EIP 1559. Quanto maior a demanda da rede, mais ethers são queimados. No entanto, isso não significa que não seja possível emitir mais ethers de forma ilimitada. Se não há limite de emissão, não há previsibilidade das propriedades monetárias, e a moeda não é escassa.

Na imagem abaixo, é possível observar que em 2022, com o mercado desaquecido e as recentes quedas de preço, as taxas de Ethereum atingiram mínimas, voltando aos níveis de maio de 2020. Como resultado, apenas 11% da emissão foi queimada. Isso indica que o Ethereum está inflacionando, criando mais ethers do que queimando.

Gráfico que mostra que Ethereum está inflacionado
Fonte: @_Checkmatey_

Dessa forma, não há como afirmar que ETH é deflacionário se as regras de emissão se modificam o tempo todo e de acordo com os ciclos de mercado.

Não é previsível porque sound money não faz expansão monetária.

O gráfico abaixo mostra a política monetária do Ethereum. O cronograma de emissão de moedas não parece seguir um padrão, assemelhando-se mais a um rabisco aleatório. A tendência de a emissão ir a zero não é o que está acontecendo, como visto no gráfico anterior.

Política Monetária Ethereum (Gráfico)

No site ultrasoud.money, os fãs do Ethereum costumam compartilhar o gráfico abaixo, mostrando como o Ethereum se tornou deflacionário e mais sólido que o Bitcoin.

Gráfico da Ultrasound.money que mostra a deflação do Ethereum

No entanto, nada garante que a política monetária não será modificada novamente, como já ocorreu no passado, por meio de hard forks.

Não há um supply fixo delimitado, e, apesar do Ethereum estar sendo queimado, 60% do supply ainda foi criado via pré-mineração. As taxas que estão sendo queimadas são dos novos tokens criados, não dos ETHs que foram criados via pré-mineração, ampliando ainda mais o poder dos insiders que receberam tokens via impressão digital.

Nodes Centralizados

Outra questão é a centralização na arquitetura de rede do Ethereum. Os nodes que verificam e validam os blocos têm suas máquinas totalmente dependentes de datacenters ou de empresas centralizadas.

O site etherenodes.org mostra que 66% dos nodes Ethereum ficam hospedados sob responsabilidade de um terceiro. A imagem abaixo demonstra que 66% dos nodes ethereum estão hospedados em servidores de nuvem.

Gráfico que mostra que 66% dos nodes Ethereum são hospedados em servidores de nuvem

Desses servidores de nuvem, cerca de 58% dos nodes estão nos datacenters da Amazon e 14% da Hetzner, sem contar os outros datacenters em menor proporção que aparecem ali. Isso significa que se um governo ordenar que a Amazon desligue os nodes Ethereum ou censure algum usuário específico, eles terão que cumprir.

Fragilidade à segurança

A centralização dos nodes é uma grande fragilidade de segurança e uma grande força centralizadora com potencial de censura. Isso ocorre porque rodar um node do Ethereum de forma descentralizada, com o seu próprio hardware em casa e com capacidade para armazenar toda a blockchain, custa caro, pelo menos 20 mil reais. Isso porque é necessário um computador potente e com capacidade suficiente para armazenar a blockchain inteira.

Segundo a Alchemy, uma empresa que fornece o serviço de nodes remotos para o Ethereum, é necessário ter um drive com pelo menos 10TB+ de espaço para rodar um node archive. Não é qualquer PC que tem essas configurações.

Qual é o tamanho de um nó de arquivo?

No momento, os nós de arquivamento que executam os dois principais clientes (Geth e OpenEthereum) armazenam mais de 10 TB de dados.

O gráfico abaixo mostra como o Ethereum tende a demandar cada vez mais computadores mais potentes, com capacidade maior e mais caros para rodar o próprio node de casa, apenas para verificar a rede e sem receber nada em troca.

É por isso que a maioria dos nodes do Ethereum e de outras criptomoedas ficam em datacenters, centralizando a estrutura de hardware da rede.

O código foi escrito de uma maneira que restringe a descentralização da rede.

Gráfico que mostra o poder computacional exigido pela rede Ethereum ao longo dos anos

Se os nodes estão centralizados, eles podem ser facilmente censurados em um ataque governamental, como vimos com o Tornado Cash, por exemplo.

Projetos que não são suficientemente descentralizados e cujos criadores são conhecidos estão mais suscetíveis à censura governamental. A centralização antes camuflada acaba sendo exposta nesses ataques de governos opressores, que passam a ver códigos open source como uma ameaça.

Devido ao alto custo de rodar um node archive Ethereum, muitos usuários optam por rodar nodes remotos e acreditam estar descentralizando a rede. Na verdade, esses usuários estão apenas rodando um programa que depende do hardware (da máquina) e da cópia da blockchain de um terceiro: datacenter ou exchange.

Isso não é descentralização! É apenas rodar uma interface, dependendo da Amazon e das mesmas big techs centralizadas de sempre.

O “don’t trust, verify” só é válido quando você tem a cópia da blockchain e pode verificar, na sua própria máquina, se as informações são válidas ou não.

Essa centralização em datacenters é reflexo da postura inicial do próprio Vitalik, que desdenhou no passado a necessidade de usuários rodarem seus próprios nodes. No entanto, este é apenas mais um ponto sobre o qual ele mudou de ideia tempos depois.

Tuíte do Vitalik, fundador da ETH
“A ideia de usuários comuns validando pessoalmente toda a história do sistema é uma estranha fantasia de homem da montanha. Pronto, falei”.

Na última apresentação dele na ETHC22 (Ethereum Community Conference), ele falou em focar na descentralização e no papel de rodar nodes com hardware mais leve.

Apresentação de Vitalik, na qual ele fala em focar na descentralização

A grande diferença é que os light e full nodes do Ethereum não são como os full nodes do Bitcoin, que possuem cópia de toda a blockchain.

Os nodes que podem verificar toda a blockchain Ethereum são chamados de nodes archive (arquivo). Eles seriam os equivalentes aos full nodes do Bitcoin. Essas nomenclaturas parecidas podem confundir quem não está antenado nos tipos de node de cada rede.

Para exemplificar: nodes de bitcoin podem rodar em PCs velhos ou até em mini computadores como Raspberry Pi que custam de 500 a dois mil reais.

É bem mais acessível que os 20 mil reais para rodar um node archieve de Ethereum, não é mesmo?!

Centralização em Proof Of Stake (PoS)

A mudança de Ethereum de PoW para PoS, além de ter sido uma mudança de cima para baixo, dos devs para os usuários, foi também um fator extremamente centralizador.

A distribuição nos pools de staking do Eth 2.0 está predominantemente nas mãos de exchanges como Kraken, Coinbase e Binance. São empresas centralizadas que possuem os recursos necessários para cobrir os custos do hardware e os 32 ETH exigidos para participar do staking, totalizando um investimento de aproximadamente 320 mil reais, considerando tanto o custo do hardware quanto o valor dos 32 ethers, que, por si só, têm um preço de cerca de 300 mil reais.

Gráfico que mostra a distribuição dos Pools de ETH

Além das exchanges, 31% do ether em staking está no protocolo Lido, uma plataforma DeFi que reúne usuários para realizar staking de forma “descentralizada”.

No entanto, o Lido é uma DAO, e DAOs são formadas por pessoas. Tem havido bastante debate sobre a falta de descentralização das DAOs.

A centralização do Lido é evidente na distribuição dos tokens de governança, onde:

  • 36% ficam no tesouro do protocolo
  • 22% para investidores (Venture Capitals)
  • 20% aos desenvolvedores iniciais
  • 15% pros fundadores e futuros funcionários
  • e 6,5% para validadores
distribuição dos tokens LIDO

Esses players têm poder de decisão na DAO, que neste momento concentra 30% dos ethers em staking. Essa estrutura, fortemente apoiada por esses quatro players (Binance, Coinbase, Kraken e Lido), compromete a segurança de Ethereum e o quanto esses players terão poder de decisão no protocolo.

Como bem disse Nick Szabo, “terceiros de confiança são brechas na segurança“.

Gradualmente, o Ethereum está efetivamente recriando o sistema fiat, mas com novos nomes, personagens e narrativas, enquanto a dinâmica centralizada, apoiada pelas novas instituições financeiras, as exchanges, permanece igual mesmo após o The Merge.

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Atualizações forçadas

No Ethereum, o poder de decisão está totalmente apoiado nos pools de staking, que fazem parte do consenso e da Fundação Ethereum, responsável por modificar o código hierarquicamente.

Durante a transição de PoW para PoS, os mineradores do Ethereum que não atualizassem para PoS seriam excluídos da rede, conforme mostrado no próprio site ethmerge.com.

Em outras palavras, o protocolo busca consenso por meio de atualizações mais recentes; quem não atualizar será excluído e perderá anos de investimento em máquinas.

Mensagem para os mineradores de Ethereum, que deveriam atualizar para PoS, caso contrário, seriam excluídos da rede.

A execução de diversos hard forks ao longo da história do Ethereum, conforme exemplificado em seu roadmap abaixo, revela como ele deixou de ser retrocompatível.

História de todos os Hard Forks da rede Ethereum

Com múltiplos hard forks, o Ethereum perdeu a capacidade de retroceder para versões anteriores em caso de bugs ou problemas no código. Usuários e validadores são obrigados a atualizar constantemente ou serão excluídos da rede.

Altcoins e Bitcoin

Essa diferença é crucial entre altcoins e Bitcoin.

O Bitcoin é retrocompatível; os usuários podem executar versões anteriores sem serem excluídos da rede ou comprometerem a segurança.

Já o Ethereum e outras altcoins não são retrocompatíveis, o que expõe usuários a riscos de roubo ou bugs caso não atualizem seus softwares. Isso é uma das razões para muitos hacks em DeFi e outros protocolos.

Diferença entre Bitcoin e Ethereum

As mudanças no código e no mecanismo de consenso de PoW para PoS também mostram como o Ethereum não é imutável, uma característica crucial para considerar um protocolo seguro e descentralizado.

A mudança para PoS tem até uma “data”, uma altura de bloco, conforme postado por Vitalik em seu Twitter.

Tuíte de Vitalik sobre a data da mudança para PoS

A presença de um criador e uma equipe determinando mudanças de cima para baixo é uma evidência significativa de centralização.

Muitos “especialistas” cripto podem argumentar que falar sobre descentralização é ideologia, mas abrir mão de princípios como a descentralização expõe a riscos, especialmente nos momentos críticos.

Saque de ETH em Staking

No caso do Ethereum, sacar ETH em staking pode ser um desafio devido às travas impostas pelos desenvolvedores.

Um tweet de um dos desenvolvedores explica que o plano é implementar a funcionalidade de saques em uma atualização de software de 6 meses a 1 ano após a fusão.

O sistema de saques será organizado em uma fila para limitar a quantidade de ETH retirada por dia.

Tuíte de um desenvolvedor de Ethereum, sobre o limite de saques de eth em staking

É tipo o hotel california, depois que você entra, coisas estranhas acontecem e você não consegue mais sair.

Muitos usuários que deixaram ETH em staking podem não conseguir sacar na hora desejada devido a uma “fila” de saques, sem transparência sobre quem terá prioridade.

Além disso, não há um cronograma transparente para as recompensas em staking nas próximas décadas ou séculos, deixando tudo nas mãos da Ethereum Foundation e de Vitalik, sem previsibilidade pública.

Rollups e Layers 2 com backdoors

Em uma entrevista recente, Vitalik revelou que protocolos adjacentes à blockchain Ethereum, como rollups e camadas 2, possuem funcionalidades que permitem aos desenvolvedores interromper os protocolos para corrigir possíveis bugs.

Qualquer tipo de backdoor ou saídas excusas são pratos cheios para que desenvolvedores mal intencionados realizem rug pulls ou exit liquidity em caso de bugs.

O que muitas vezes parece ser criado para proteger usuários, pode ser o cavalo de tróia para a segurança e acabar facilitando privilégios exorbitantes para os próprios desenvolvedores das rede.

Baixa resistência à censura

Cerca de 47% dos blocos Ethereum cumprem as ordens do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros dos Estados Unidos (OFAC), conforme mostrado no site mevwatch.info.

Gráfico da OFAC sobre ETH

Em novembro de 2022 o número de blocos que seguiam em conformidade chegou a 79%, algo preocupante pois se uma blockchain pode censurar blocos por não seguirem regras regulatórias, o quão resistentes à censura e à captura regulatória ela realmente é?

Blocos compatíveis com OFAC excluem transações relacionadas com partes sancionadas pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro dos EUA.

Isso acontece por causa de um mecanismo chamado Miner Extraction Value (MEV), em que mineradores podem modificar a sequência de transações dentro dos blocos que eles geram. Muitos dos validadores (90%) estavam utilizando relés MEV-boost Flashbots que segue as regras da OFAC.

De novembro de 2022 até o momento, o número de validadores utilizando esses relés, que podem censurar blocos, caiu significativamente. No entanto, isso não exclui o fato de o Ethereum ter perdido a sua neutralidade e resistência à censura a nível de protocolo. Afinal, 49% dos blocos passíveis de censura representam um número absurdamente grande, demonstrando uma considerável suscetibilidade à captura regulatória.

Ethereum Foundation e seus conflitos éticos

O último ponto de desconfiança em relação ao Ethereum envolve conflitos éticos.

Venda de ether na alta

A Ethereum Foundation, liderada por Vitalik, vendeu 70 mil ethers (equivalente a 336 milhões de dólares) no topo de 2017:

E novamente no topo do ciclo em novembro de 2021, como mostra na imagem abaixo.

Venda de ether pela Ethereum Foundation em 2021
@edwardmorra_btc Twitter

Será que eles tinham informações privilegiadas novamente? Dois ciclos vendendo no topo….estranho, não?

Ao contrário de Satoshi, que nunca realizou lucros, Vitalik, por meio da Ethereum Foundation, vendeu ethers diretamente ao público em momentos estratégicos, o que é considerado antiético, especialmente porque a Ethereum Foundation se autodenomina uma organização sem fins lucrativos.

Site da Ethereum Foundation, na qual se denomina uma instituição sem fins lucrativos

Essa prática também contradiz a visão inicial de Vitalik de que o Ethereum deveria ser sem fins lucrativos e beneficiar o mundo inteiro, não apenas algumas pessoas. Entretanto, o que ele e a sua fundação fizeram foi vender e lucrar nos dois últimos ciclos.

Contradição de Vitalik

É a máxima caricatura de shitcoins em que donos de projetos imprimem tokens a custo ZERO, via pré-mineração, e vendem na cabeça das pessoas que compraram, pagando um preço real, iludidas que o projeto cumpriria tudo o que promete.

Depois disso tudo, o que torna o Ethereum diferente de um Banco Central ou de uma empresa que usa informações privilegiadas para lucrar com a oscilação futura de suas ações de aordo com as notícias que são divulgadas por eles mesmos?

MarkDAO

Outra falha ética ocorreu quando a Ethereum Foundation decidiu criar um hard fork para reverter uma transação resultante de um roubo na MakerDAO.

A MakerDAO possuía 14% do supply de ether, e ter essa quantidade de ETH colocaria o hacker em uma posição privilegiada de poder quando o Ethereum migrasse para proof of stake.

Após extensos debates e divisões na equipe de desenvolvedores, a decisão foi tomada de reverter as transações, comprometendo a imutabilidade para salvar a MakerDAO.

Isso é típico de cantillonários, não é? Que, para salvar seus amigos bancos centrais, resgatam bancos falidos que fizeram uma má gestão de seus recursos.

A ironia disso tudo é a declaração de Vitalik pedindo às pessoas que parassem de negociar nas exchanges para que conseguissem conter o hacker.

Frase de Vitalik pedindo para as pessoas pararem de fazer trade

A enorme centralização também aparece em outras partes do ecossistema ethereum.

A carteira Metamask vinculada à Infura, empresa que gerencia nodes remotos de ethereum, censurou usuários da Venezuela. Além disso, a Metamask foi adquirida também pelo JP Morgan e outros bancos:

Noticia sobre a aquisição da Metamask pelo JP Morgan

Howey Test

Depois de analisar todos esses fatores, fica claro que o Ethereum é, na verdade, um security, uma ação de uma empresa não regulada disfarçada de protocolo descentralizado.

Ao aplicar o teste de Howey, clássico para avaliar se um ativo (token) é, na verdade, uma ação de uma empresa, o resultado é positivo.

1. A oferta envolve um investimento monetário?

Sim, o próprio fato de ter levantado fundos via ICO com investidores iniciais é um ponto afirmativo.

2. Há uma expectativa de lucros com o investimento?

Sim, tanto no momento prévio ao ICO..

…quanto antes do merge para PoS, Vitalik promove o Ethereum como algo com potencial de valorização, dizendo que o merge “não estava precificado”.

3. O investimento é um empreendimento comum?

Sim, há uma hierarquia, assim como em uma empresa, onde Vitalik é o CEO, e a Fundação Ethereum toma as decisões sobre as futuras atualizações e o rumo do Ethereum, excluindo usuários por meio de hard forks.

4. Lucro vem dos esforços de um promotor ou de terceiros?

Hoje, existem vários promotores do Ethereum: a Ethereum Foundation, exchanges que lucram com as taxas de negociação de ETH e todos os tokens criados em seu ecossistema, canais de redes sociais, bancos e até governos que já entenderam que o Ethereum é centralizado e irão emitir suas CBDCs usando o protocolo.

O vídeo abaixo compila os dois últimos tópicos e comprovam como Ethereum é uma security. É uma empresa comum com hierarquia e também há equipes promovendo o projeto.

Conclusão e Pontos de Risco: como Ethereum pode falhar?

Após passar pelos principais pontos sobre centralização e riscos de segurança do Ethereum, chegamos à conclusão de que os maiores risco são a captura regulatória via pressão governamental na Ethereum Foundation, em validadores, em datacenters que hospedam nodes e em bugs irreversíveis, estilo Terra Luna, devido às constantes mudanças no protocolo.

Outro ponto crítico é a centralização da equipe que detém o poder de decisão. Nesse sentido, os principais riscos incluem rug pulls, exit liquidity e backdoors no protocolo.

Além disso, há centralização por meio da aliança com bancos, como o JP Morgan. Esse tipo de parceria atende aos interesses das empresas envolvidas nos acordos, não dos usuários que esperam descentralização do protocolo.

Em uma situação de bug no protocolo, esses players teriam seus fundos salvos, enquanto os usuários perderiam liquidez?

Quando se compreende o verdadeiro significado da descentralização, percebe-se que o Ethereum não é nem um pouco descentralizado. Muitas pessoas negam isso por não verificarem por conta própria os dados apresentados aqui ou por muitas vezes se beneficiarem da falta de entendimento geral sobre o assunto.

Espero que tenha gostado do artigo, não deixe de compartilhar com amigos e até a próxima.

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Escrito por
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Carol Souza

Carol é uma das principais educadoras de Bitcoin no Brasil. Ela participou de seminários para desenvolvedores de Bitcoin e Lightning da Chaincode (NY) e é palestrante em conferências sobre Bitcoin ao redor do mundo.

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