Este artigo visa proporcionar uma visão abrangente sobre a plataforma Polygon, destacando o que é a Polygon, suas características e os riscos associados à ela.

É crucial salientar, contudo, que toda a informação apresentada tem exclusivamente fins informativos de natureza geral.

Não se destina a fornecer aconselhamento de investimento e não deve ser interpretada como consultoria tributária, contábil, jurídica, comercial, financeira ou regulatória. Trata-se de uma pesquisa independente realizada por um grupo de estudo independente.

Dito isso, bora entender um pouco mais sobre a criptomoeda Polygon?

O que é Polygon?

Polygon é uma Commit Chain Proof of Stake (PoS) de segunda camada (L2) de Ethereum. As Commit Chains são, de certa forma, sidechains, mas com uma maior interconexão com a camada um.

Ela se promove como uma plataforma descentralizada para escalar aplicações em Ethereum, mas na prática não é o que acontece.

Dependência no Ethereum

A dependência da Polygon no Ethereum é muito mais pronunciada do que a de uma sidechain convencional. Compatível com EVM, busca proporcionar maior escalabilidade, velocidade e flexibilidade, visando transações mais rápidas e econômicas utilizando a L1 do Ethereum.

Assim, a Polygon se apresenta como uma plataforma para escalonar aplicativos descentralizados e uma rede com capacidade para manter cerca de 65.000 TPS (transações por segundo).

Antiga MATIC

Iniciou-se em 2017 como uma rede voltada para jogos, sob o nome de MATIC, e expandiu seu escopo em 2021 para outras áreas, como WEB3, DeFi e NFTs.

A página original com a postagem da equipe sobre o rebranding foi removida do ar.

Página fora do ar da Polygon

Com a expansão do escopo e a orientação para Web3, NFTs e DeFi, aplicações renomadas como Uniswap, Aave, Curve e Open Sea tornaram-se integrantes essenciais da plataforma Polygon.

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Fundadores e parcerias

A startup foi fundada por Mihailo Bjelic, Jaynti Kanani (CEO), Sandeep Nailwal (COO) e Anurag Arjun (CPO). Apesar de se autodenominar um protocolo descentralizado, os fundadores mantêm posições de alto escalão, assemelhando-se à estrutura organizacional de uma empresa.

O Polygon utiliza blockchains laterais (plasma) para a execução e validação de transações fora da cadeia principal.

Além disso, emprega a rolagem de conhecimento zero (ZK rollups) e Zk EVM para o desenvolvimento de dApps mais rápidos e eficientes em termos de taxas.

A Polygon estabeleceu parcerias estratégicas com diversas empresas e gigantes da tecnologia, incluindo Coinbase, Instagram, Disney e até o Nubank. No entanto, a rápida escalabilidade não está isenta de riscos, tanto em termos de segurança quanto de descentralização.

É sobre esses riscos e potenciais falhas que nos dedicaremos a discutir a seguir.

Criação e distribuição dos Tokens MATIC

O ecossistema Polygon opera por meio do token ERC-20 chamado MATIC, criado para cobrir despesas de transação, governança e staking destinado a validadores. Este utility token visa facilitar os pagamentos e liquidações entre os participantes da plataforma.

Com uma oferta máxima de 10 bilhões de tokens MATIC, eles são liberados mensalmente.

Na venda privada inicial em 2017, 3,8% (380 milhões de tokens) do fornecimento total foram emitidos. A venda subsequente no launchpad, em abril de 2019, viu 19% do fornecimento total (1,9 bilhão de tokens) serem comercializados a US$0,00263 por token, gerando US$5 milhões. Esse evento representou 22,8% do supply, uma espécie de “pré-mineração” destinada à venda privada inicial e ao launchpad em exchanges.

Os 7,72 bilhões restantes dos tokens MATIC seguiram uma distribuição predeterminada, alocados da seguinte forma:

  • Tokens da equipe: 16% do fornecimento total (1.6 bi)
  • Tokens dos conselheiros: 4% do fornecimento total (400 mi)
  • Tokens de Operador de Rede: 12% do fornecimento total (1.2 bi)
  • Tokens da fundação: 21,86% do fornecimento total (2.1 bi)
  • Tokens do Ecossistema: 23,33% do fornecimento total (2.33 bi)

Essa distribuição revela que 76% dos tokens foram predestinados desde a sua criação!

Dos 10 bilhões de tokens do supply máximo da rede, apenas 2.28 bilhões não foram predestinados para fundadores, equipe de desenvolvedores, investidores iniciais ou conselheiros.

Essa distribuição direcionada é determinante e constitui um fator centralizador, especialmente porque, em uma rede PoS, quem possui mais tokens detém maior influência sobre a rede. Portanto, foi um lançamento que beneficiou assimetricamente os insiders do protocolo.

Gráfico que mostra como foi feita a distribuição dos tokens da Polygon

Distribuição

Abaixo, estão os conselheiros que recebera 4% do fornecimento total (400 milhões de tokens MATIC), e também os investidores que receberam 2.28 bilhões de tokens

Além disso, a imagem abaixo mostra como a maior parte do supply teve sua distribuição predestinada desde o início da rede.

Distribuição dos tokens da Polygon
Curva de fornecimento líquido

Como você pode ver, apenas 12% do supply, ou 1,2 bilhão de tokens, serão distribuídos por meio de staking para validar blocos.

Essa alocação inicial denota um início de consenso PoS altamente centralizado, com o poder concentrado nas mãos dos fundadores e insiders do projeto. Isso é reforçado pelo fato de que, mesmo ao se tornar um validador, os insiders têm uma vantagem inicial significativa sobre os usuários comuns do protocolo.

Essa concentração central também é respaldada por dados de outras reportagens, indicando que os 100 maiores detentores de Polygon possuem coletivamente mais de 90% da oferta de MATIC.

Gráfico que mostra os 100 maiores detentores (holders) de Polygon

Quem são esses grandes holders de MATIC? Se investidores, fundadores, insiders e conselheiros receberam a maior parte do supply não seriam esses players os maiores hodlers de MATIC?

Esse cenário reforça a narrativa de uma grande centralização na rede Polygon, especialmente em um contexto de mecanismo de consenso PoS, onde a posse de mais tokens e a validação conferem um poder significativo sobre os usuários menos privilegiados.

Riscos da centralização das multisigs Polygon

Não é novidade que Polygon tem sua segurança apoiada em chaves multisigs. Ou seja, para modificar o protocolo, é preciso pelo menos 4 ou 5 assinaturas de um conjunto inicial de 8 ou 9 chaves configuradas na sua criação.

Multisigs representam um tipo de fechadura criptográfica na qual um grupo de pessoas detém chaves individuais. Assim, o grupo decide o número mínimo de chaves necessárias para realizar transações ou modificar o código. Por isso, são chamadas de assinaturas múltiplas (multisigs).

Polygon Multisigs

No site de perguntas e respostas da Polygon, a explicação é que a principal função das multisigs é ativar as atualizações de contratos nas fases iniciais do desenvolvimento.

À medida que os contratos garantidos pelas multisigs são testados, a Polygon implementará as seguintes otimizações e alterações:

  • Passar de multisigs para proxies controlados por governança;
  • Introduzir cronogramas;
  • Eventualmente, remover todas as multisigs” (eventualmente?).

Na imagem abaixo, encontram-se os endereços multisigs para cada tipo de contrato, juntamente com os detentores das chaves e as competências de cada um.

Essas duas primeiras são críticas em termos de segurança, requerendo 5 de 8 assinaturas. Os signatários são cofundadores da Polygon e pessoas de confiança. No entanto, apenas parte das chaves foi identificada.

Portanto, todas as chaves estão nas mãos desses players, ou outras pessoas não mencionadas também possuem chaves para modificar o protocolo?

Endereços multisig para cada tipo de contrato

No último contrato (imagem acima), 4 das 8 chaves estão integralmente sob o controle da equipe Polygon, sem detalhes sobre quem detém as chaves e quantas pessoas são. Portanto, cinco pessoas, no máximo, são necessárias para comprometer bilhões no ecossistema Polygon.

Esses contratos serão “eventualmente” transformados em governança. Porém, enquanto isso não acontece, o controle está totalmente nas mãos dos insiders. Isso torna o projeto mais semelhante a uma empresa do que a um protocolo descentralizado.

Quem garante que, mesmo após a migração para um sistema de governança, a maioria dos tokens não permanecerá nas mãos da equipe Polygon e dos insiders?

Perguntas feitas e nunca respondidas pela equipe da Polygon

Chris Blec, do Defi Watch, solicitou formalmente informações à equipe Matic/Polygon sobre as chaves de administrador em 2020, mas a equipe negou o pedido.

As perguntas feitas e nunca respondidas foram:

  1. A segurança da rede Polygon depende da habilidade, honestidade e integridade de 5 dos 8 principais detentores de vários sistemas?
  2. Qual é o pior cenário que poderia resultar se o multisig de contrato de 5 de 8 apostas fosse comprometido?
  3. Que evidência a comunidade pode considerar como prova de que cada uma das 8 chaves de assinatura está na posse exclusiva de um indivíduo único, e esse indivíduo não possui mais de uma chave de assinatura?
  4. Como os usuários podem ter certeza de que as chaves privadas e / ou mnemônicos subjacentes a cada uma das 8 chaves de assinatura foram geradas de maneira segura, foram protegidas adequadamente durante toda a sua existência, e não foram comprometidos antes de serem designados como signatários multisig?
  5. Quais jurisdições governam os detentores de chaves multisig individuais e existem detentores de chaves que violam as leis locais ou nacionais participando do multisig?
  6. Onde está incorporada a corporação administradora da Polygon e quantos dos oito principais acionistas são funcionários dessa corporação?
  7. Como a corporação ou equipe da Polygon reagiria a uma solicitação governamental forçada para modificar o contrato de vigência ou interferir na continuidade das transações na rede da Polygon?
  8. Como os usuários podem ter certeza de que os assinantes multisig não conspiram para comprometer intencionalmente a segurança da rede Polygon, se houver algum incentivo financeiro para fazê-lo?

Mihailo Bjelic, co-fundador do projeto, reconheceu as preocupações e falou que a Polygon está “ trabalhando para eliminar as multisigs.”

Essa eliminação das multisigs aparece como algo que eventualmente irá acontecer. Não é uma certeza, não há previsibilidade, e a equipe não parece fazer questão de priorizar a descentralização da rede. Assim, a justificativa é que o protocolo está em fase inicial, e as multisigs são mecanismos que aumentam a segurança, não a diminuem.

Contudo, um protocolo com mais de $10 bilhões de capitalização de mercado não deveria estar mais em fase inicial.

Um protocolo que se diz descentralizado não deveria pedir aos usuários que confiem na reputação de sua equipe. Esse é um comportamento típico de empresas, não de protocolos.

Por mais conspiratório que possa parecer, muitos casos de equipes que agem em conluio para roubar fundos dos usuários de plataformas que elas próprias criaram são recorrentes em altcoins.

A equipe de desenvolvimento pode assumir o controle total da governança de contratos inteligentes, já que as oito partes multisig foram selecionadas pela própria equipe Polygon, e ninguém sabe quem tem essas chaves.

Além disso, em situações de crise, a centralização das chaves pode beneficiar desproporcionalmente insiders por meio de backdoors e outros mecanismos chamados “exit scams“, usados para salvar a pele da equipe desenvolvedora e investidores iniciais.

Falta de transparência da equipe Polygon

A falta de transparência da equipe Polygon na criação e custódia das chaves reforça os riscos da centralização.

Não há como provar que cada uma das chaves está nas mãos de um indivíduo único e que ninguém possui mais de uma chave. Portanto, se uma pessoa tiver duas ou mais chaves, isso invalida parcialmente o modelo de segurança.

Não há também como comprovar que essas chaves foram criadas com a segurança necessária; podem ter sido geradas usando um Wi-Fi público em um hotel, por exemplo. A segurança na criação das chaves é imprescindível, visto que asseguram não apenas um único contrato, mas toda uma blockchain com um TVL de bilhões.

Exclusão de Usuários por Centralização das Atualizações

Recentemente, a Polygon realizou o “Delhi Fork“, uma atualização hard fork destinada a aumentar a velocidade das transações e manter os preços do gás baixos.

A atualização foi alvo de críticas por ser considerada altamente centralizada. A equipe de governança propôs o hard fork em dezembro de 2022 e estabeleceu que seria necessário o aval de pelo menos 67% dos validadores para sua implementação.

A lógica por trás do fork também foi questionada. Parte da comunidade Polygon se opôs à mudança e criticou a gestão por não priorizar “atualizações técnicas mais importantes”.

O problema foi levado a votação, mas nem todos tiveram acesso; apenas os 100 validadores da rede que executam nodes foram convidados a participar da pesquisa, excluindo os usuários.

Na sequência do debate, foi revelado que apenas 15 validadores votaram, dos quais 13 apoiaram a atualização e dois se opuseram. Assim, com 13 votos favoráveis em 15, a rede registrou 87% de aprovação para a atualização, ultrapassando os 67% necessários estabelecidos para a votação.

No final das contas, apenas 13 dos 100 validadores determinaram o destino da rede, que acabou implementando a atualização mesmo em meio à controvérsia dentro da comunidade Polygon.

Após o hard fork, a equipe afirmou que 99 dos 100 validadores foram atualizados em todas as etapas do processo. Havia a preocupação de que, caso os validadores resistissem à atualização, poderia ocorrer uma situação catastrófica em que várias redes paralelas surgiriam.

Esse receio dos desenvolvedores é comum, razão pela qual protocolos que realizam hard forks obrigam os nodes a se atualizarem; do contrário, novas moedas e redes seriam criadas como um efeito adverso da atualização forçada.

Ou seja, se um validador não se atualizar, será excluído da rede e não receberá recompensa por validar os blocos, ficando isolado em uma nova rede, perdido em um universo paralelo, numa versão “não oficial” do protocolo.

Por isso, na imagem abaixo, a equipe Polygon destaca que os nodes DEVEM ser atualizados.

Atualização Polygon (Delhi Fork)

A obrigatoriedade de atualização evidencia a centralização do poder de decisão pela equipe gestora, que determina como, quando e quais atualizações são necessárias. Isso assemelha-se à forma como uma empresa hierarquicamente decide seus próximos passos.

Mas, não é a primeira vez que Polygon faz um hard fork que evidencia a centralização do projeto.Em dezembro de 2021, um hacker roubou US$ 1,6 milhão após explorar um bug, e a rede secretamente fez um hard fork para corrigir o bug crítico!

Bug crítico na Polygon (notícias)

A Polygon poderia ter perdido quase todos os seus tokens MATIC, no valor de $24 bilhões. Ela empreendeu um hard fork às pressas para corrigir o bug e salvar o projeto, mas detalhes sobre a vulnerabilidade só foram divulgados dias depois.

Bug crítico na polygon coloca em risco $24 bilhões (notícia)

Agora, eu te pergunto, como uma rede descentralizada consegue fazer um hard fork secreto de um dia para o outro?!

Censura por Centralização do nodes na Polygon

A resistência à censura é o principal motivo pelo qual a descentralização importa. Ninguém pode ser excluído, e qualquer pessoa pode acessar sem precisar pedir permissão a NINGUÉM.

Portanto, se uma rede pode ser censurada, certamente não é descentralizada.

Por isso, a descentralização dos nodes é fundamental. A facilidade em executar um node resulta na simplificação da descentralização da rede e na manutenção de sua resistência à censura, permitindo acesso universal.

Dito isso, apenas o Bitcoin tem conseguido garantir essas propriedades entre todas as redes que se autodenominam descentralizadas.

Capacidade de Hardware

Confira abaixo qual é a configuração mínima de hardware necessária para configurar um nó completo na Polygon:

  • RAM: 16-32 GB
  • CPU: CPU de 4 a 8 núcleos (para AWS: t3.2xlarge )
  • Armazenamento: SSD de 2,5 TB a 5 TB (precisa ser extensível)

Portanto, assim como ocorre com nodes em outras blockchains, a Polygon também exige uma grande capacidade de hardware, o que dificulta e encarece para o usuário a execução de um full node ou archive, onde toda a história da blockchain é armazenada, conforme observado na imagem abaixo.

Nodes Polygon

Além disso, a Polygon também é dependente de armazenamento em hardware de datacenters:

  • 26% dos nodes estão na Amazon Cloud e 30% na Hetzner, que são os datacenters com maior número de nodes, totalizando 56%.
  • Cerca de 39% estão em outros datacenters,
  • e apenas 4,1% dos nodes são auto-hospedados, não estando em datacenters, mas sendo operados por empresas ou usuários em suas residências.

Ou seja, 95% dos hardwares que armazenam a blockchain da Polygon estão centralizados em datacenters de grandes empresas de tecnologia.

Qual o problema da centralização dos nodes?

O maior problema da centralização dos nodes é o risco de ataques hackers nesses sistemas, bem como o risco de ataques governamentais através de captura regulatória, onde governos podem proibir datacenters (servidores de empresas) de armazenarem registros da blockchain.

A vulnerabilidade à censura é o principal ponto de fragilidade em sistemas centralizados.

Portanto, assim como um banco pode encerrar a conta de um cliente a qualquer momento mediante solicitação de entidades governamentais, o mesmo pode acontecer com protocolos que têm sua arquitetura de rede dependente de entidades centralizadas.

Se datacenters forem proibidos de armazenar registros da rede Polygon devido a uma acusação governamental, apenas os 4% de nodes restantes que não dependem de servidores de terceiros continuarão armazenando os dados.

Além disso, se esses 4% de nodes remanescentes forem de fundadores ou pessoas facilmente identificáveis, qualquer entidade autoritária poderá forçar essas pessoas a desligarem seus nodes e derrubarem a rede.

Eventos e Acontecimentos do Passado: Bugs Expondo a Centralização dos Nodes

Node Heimdall

Um acontecimento que expôs a grande centralização da Polygon e a facilidade com que ela pode ser derrubada ocorreu em 10 de março de 2022.

Neste acontecimento, a Polygon travou por 11 horas devido a problemas no node Heimdall.

Interrupção do serviço da Polygon

A equipe tomou a decisão de travar a blockchain e informou os usuários sobre a suspensão, uma decisão de cima para baixo da equipe da Polygon em relação à rede.

Durante o período de travamento, as transações ficaram paralisadas:

Transações paralisadas
polygonscan.com

Segundo os desenvolvedores, o node Heimdall enfrentou um bug em uma atualização anterior que afetou o consenso, levando os validadores a usar diferentes versões da blockchain, não alcançando os 2/3 necessários para o consenso.

Além disso, os desenvolvedores esclareceram que o node Heimdall é projetado para ser interrompido quando o consenso não é atingido, um aspecto peculiar do seu funcionamento.

Os desenvolvedores também afirmaram que o Heimdall não lida com transações de usuários, mas é usado para pontes (bridges) e transações relacionadas aos validadores.

No entanto, a equipe explicou que a cadeia Bor, voltada para transações de usuários, também foi interrompida porque “depende do Heimdall para a seleção do comitê de proponentes de blocos“.

O Twitter da Polygon foi inundado com reclamações de usuários que tentaram fazer transações sem saber da interrupção da rede. Eles relataram transações malsucedidas no OpenSea, onde os saldos da carteira não foram atualizados, fazendo parecer que os fundos foram perdidos.

A Polygon enfrentou muitas críticas por sofrer várias interrupções no início de 2022, contudo, nenhum fundo foi perdido devido a esse bug.

Outros bugs

Em eventos anteriores, as transações também foram interrompidas como resultado de uma queda em uma estação de gás e transações usando NFTs foram travadas por vários dias em janeiro de 2022.

O hotfix e o travamento como uma decisão unilateral por parte da equipe Polygon é também mais um sinal vermelho sobre o alto grau de centralização da rede. Durante esses eventos, foi possível observar que apenas um validador estava validando blocos Polygon, como aparece na imagem abaixo.

Blocos sendo validados por apenas um validador na Polygon (durante o bug de 2022)

Mais recentemente, Polygon gerou pânico e fud de que sua blockchain teria travado novamente. Segundo desenvolvedores, foi apenas o explorador de blocos Polygon que havia travado. Contudo, os nós perderam sincronia, causando uma cascata de forks e reorganização de blocos que prejudicaram o desempenho da rede e derrubaram o PolygonScan.

Reorganizações de blocos são eventos comuns na Polygon e em outras redes que utilizam a Ethereum Virtual Machine (EVM). No entanto, neste último evento, o tamanho da reorganização foi excepcionalmente grande, totalizando 157 blocos.

“Acabou ultrapassando mecanismos de correção de reorganização ‘no-touch’ em pelo menos algumas dezenas de blocos.”

Apesar de o problema ter afetado principalmente o explorador de blocos, alguns nós na rede ficaram fora de sincronia. Entretanto, segundo a equipe da Polygon, a rede nunca parou de criar novos blocos.

As explicações fornecidas não conseguiram convencer completamente os usuários, e agora o protocolo levanta cada vez mais suspeitas sobre possíveis travamentos futuros de sua blockchain.

Validadores centralizando a rede Polygon

A Polygon utiliza PoS, onde os validadores com uma maior quantidade de tokens alocados no protocolo possuem maior poder na validação dos blocos.

Outro ponto relevante é que a Polygon conta com cerca de 100 validadores, e a imagem abaixo mostra como os 10 principais validadores somados detêm 63% do poder de voto na rede.

10 principais validadores da Polygon

Essa concentração de poder também se reflete entre os validadores, especialmente porque a primeira posição é ocupada pelo nde da cidade de Lugano, com 11% do poder de voto, e o segundo lugar pertence a uma exchange centralizada, a Binance, com 9,8% de poder de voto.

Além disso, 84 dos 103 nodes possuem um poder de voto abaixo da média, evidenciando uma considerável concentração de poder entre os mais ricos da rede.

Seguindo a lógica apresentada no início deste artigo, se aqueles que receberam mais tokens foram os fundadores, a equipe, investidores e insiders, este é mais um dado que demonstra como esses participantes detêm o maior poder na validação da rede.

Tabela que mostra que 84 dos 103 nodes possuem um poder de voto abaixo da média

Coeficiente de Nakamoto

A Polygon possui um coeficiente de Nakamoto de 5, e muitos consideram que, por isso, seria muito mais descentralizada do que vários outros protocolos.

Essa métrica foi introduzida em 2017 para quantificar o número de entidades necessárias para comprometer a descentralização de uma blockchain. No entanto, essa métrica não leva em consideração a quantidade de nodes hospedados por entidades centralizadas, como datacenters, conforme destacado anteriormente.

Portanto, o coeficiente de Nakamoto não serve como uma medida precisa de descentralização, sendo uma métrica quantitativa que não avalia qualitativamente quem, como e onde os nodes são hospedados.

Essa métrica, na verdade, pode proporcionar uma falsa sensação de segurança e descentralização, tornando-se mais uma ferramenta que facilita golpes de afinidade (affinity scams).

Se a Polygon migrar para mecanismos de governança como PoS Delegados, fundadores, insiders e investidores iniciais continuariam sendo uma organização centralizada, pois validadores controlados por atores ricos poderiam excluir validadores menores da votação.

Os próprios membros do fórum da Polygon já expressaram preocupações ao integrar novos validadores para proteger os interesses dos validadores menores.

Uma estrutura de poder delegada também pode levar a uma maior centralização entre os validadores, pois os usuários comuns têm fortes incentivos para delegar seu MATIC a custodiantes centrais (como exchanges) com mais tempo, atenção, capacidade e incentivo financeiro para participar na governança.

Alguns grandes delegados poderiam conspirar para controlar a votação, uma vez que as exchanges possuem interesses em comum e, sendo elas grandes validadoras de redes PoS, isso parece ser o início de um grande cartel criptográfico, um teatro de descentralização.

Teste de Howey

Este teste, consagrado desde os anos 40, tem determinado se projetos são, de fato, títulos mobiliários (securities) ou não. Se um ativo passar por estas quatro perguntas, significa que é considerado uma ação de uma empresa.

1. É um investimento monetário?

Sim, o lançamento contou com investimento privado, IEO, participação de ventures capitals e investidores iniciais. Inclusive, Mark Cuban foi um dos grandes inevstidores e promotores do protocolo.

2. Há expectativa de lucro com o investimento?

Sim, Polygon recebeu aporte de 50 milhões de dólares em 2022.

Protocolos descentralizados não recebem aporte para se desenvolverem, empresas recebem. O próprio aporte reflete a intenção de venture capitals em lucrarem com o crescimento do projeto a partir de responsabilidades assumidas pelos fundadores de Polygon com esses investidores.

3. É um empreendimento comum?

Sim, possui uma hierarquia e um poder de decisão concentrado nos fundadores. Membros da equipe Polygon possuem cargos C-level. Validadores com maior número de tokens concentram poder de validação na rede. A distribuição inicial concentrada de tokens facilitou a concentração de poder.

Outro ponto é que a Polygon, por meio da Polygon Labs, levantou $450 milhões em vendas de tokens em 2022 através da Sequoia India e, em 2023, demitiu 20% do quadro de funcionários.

Isso se assemelha a algo que uma empresa faria e diria caso estivesse passando por uma crise, não é?

4. Lucro vem de esforços de um promotor ou de terceiros?

Twitter da Polygon

Polygon possui redes sociais oficiais e ainda divulga airdrops para quem baixar uma das carteiras do projeto. Estratégias de marketing planejadas são formas de promover empresas.

Estratégias de marketing da Polygon

A Polygon se comportou como uma empresa, realizando ações de marketing como airdrops, patrocínio de eventos, parcerias com com bancos, empresas e exchanges.

Protocolos descentralizados geralmente não realizam eventos ou parcerias. Você já viu a internet (TCP/IP) ou correios eletrônicos (SMTP) patrocinarem algo? Quem faz parcerias e ações de marketing são empresas, não protocolos descentralizados.

Conclusão

A Polygon se assemelha muito mais a uma empresa do que a um protocolo descentralizado.

Cargos C-level, distribuição de tokens entre insiders, centralização das multisigs, hard forks forçados, validadores com maior poder de voto e uma equipe que concentra totalmente o poder de decisão tornam a Polygon uma security não regulada.

Além disso, é uma empresa apoiada em outra empresa centralizada: Ethereum.

Quando a equipe da Polygon fala em descentralização, parece ser mais uma jogada de marketing do que uma realidade da rede. Nem mesmo a descentralização gradual é uma realidade, pois não há incentivos nem previsão de tornar mais transparente a posse das multisigs.

Portanto, com a centralização, surgem as possibilidades de falhas por hacks, rug pulls e exit liquidity por parte da própria equipe.

Por fim, caso você seja um usuário da Polygon, é importante que esteja ciente dos riscos para realizar uma boa gestão de risco, apoiada em um cenário real e não em uma descentralização fictícia.

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Escrito por
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Carol Souza

Carol é uma das principais educadoras de Bitcoin no Brasil. Ela participou de seminários para desenvolvedores de Bitcoin e Lightning da Chaincode (NY) e é palestrante em conferências sobre Bitcoin ao redor do mundo.

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