As moedas digitais dos Bancos Centrais são vistas como inovação pela maioria das pessoas, mas a grande verdade é que elas são um lobo em pele de cordeiro. O real digital e as CBDCs de outros países podem se tornar mecanismos de controle, mas governos não querem que você veja dessa forma.

O que são CBDC’s?

O Brasil é um dos países mais avançados em economia digital, os bancos digitais cresceram muito na última década. Temos também uma grande adoção de bitcoin, o Brasil é o 7º país do mundo no ranking de adoção global. Talvez por isso nosso Banco Central brasileiro correu tanto pra criar o Pix e o Real Digital.

Muitos países também estão correndo para criar suas CBDCs: moedas digitais apoiadas em criptografia e DLTs, registros distribuídos que precisam de permissão para usar. São o oposto de uma blockchain pública, open source e de livre acesso, as CBDCs serão criadas em redes fechadas e privadas. Isso significa que ninguém consegue verificar o código, identificar bugs ou backdoors, só entidades que têm permissão podem acessar e se conectar a rede.

Bancos centrais veem nas CBDCs a 8ª maravilha do mundo, que vai melhorar a liquidação interbancária, digitalizar a economia para ter mais eficiência, aumentar o monitoramento sobre os pagamentos e operações, promover a inclusão financeira, reduzir fraudes com dinheiro de papel e até reduzir problemas climáticos. Mas o que eles não te contam é que isso é tudo perfumaria.

Fundamentalmente não muda nada, essas moedas não vão ser diferentes do dinheiro fiat que já existe, na verdade irão acentuar os pontos negativos. É um dinheiro centralizado, que perde valor constantemente, dependente de políticos, é criado do nada sem lastro nenhum, o que permite impressão ilimitada de moedas e a inflação descontrolada que respinga em toda a população.

E não sou eu que estou falando, aqui nesse paper do euro digital isso aparece:

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O objetivo é fortalecer políticas monetárias via aplicação de taxas de juros negativas,  facilitar o helicopter money e maior seignoriage para o Estado. Acredite, está escrito isso no PDF de uma pesquisa encomendada pelo Banco Central da Europa.

Eles querem ter poder de imprimir dinheiro e distribuir mais rápido. Isso deve aumentar a inflação para todos e achatar os ganhos reais de quem consegue poupar, forçando também taxas de juros negativas e como resultado quem mais lucra com isso é o próprio governo através da seigniorage, que é o lucro por ter a vantagem de poder imprimir dinheiro.

Quem ganha com as CBDCs?

Esse paper demonstra como as CBDCs irão roubar poder de compra dos poupadores pra fazer políticas populistas, irão reduzir a dívida do governo, mesmo que ele gaste como um irresponsável, porque imprimir dinheiro terceiriza as consequências. Quem paga a conta é toda a população que vê seu poder de compra derreter, o pouco que guardou ser destruído por juros negativos enquanto o governo vê sua dívida reduzir.

É uma gangorra: governos em uma ponta e população na outra. A política monetária dos Bancos Centrais desloca valor da própria população sem ela perceber que essa engrenagem existe! Essa não é a pior parte. O grande receio é que essas moedas possam ser usadas no futuro, junto com as identidades digitais e sistemas de score de crédito social, que medem o comportamento do cidadão, como uma ferramenta de vigilância em massa. Ou seja, se a pessoa não se “comportar bem” não vai poder gastar o dinheiro como ela quiser. Isso pode parecer algo distópico e distante, mas já está acontecendo.

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A China por exemplo, usa o sistema de crédito social para classificar os cidadãos e pune quem não for considerado “digno de confiança” com redução da velocidade da internet e é proibido de viajar. Parece algo bizarro mas diretores de entidades monetárias já estão falando sobre usar esse tipo de tecnologia nas CBDCs para ter mais controle sobre comportamentos e gastos da população.

Esse vídeo mostra como os criadores da CBDC chinesa estão trabalhando junto com FMI para tornar CBDCs programáveis. Ou seja, controlar quem e como as pessoas podem gastar o próprio dinheiro.

 
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Percebe como ele usa palavras bonitas como “inclusão financeira” e programabilidade quando na verdade é sobre controle do dinheiro das pessoas? Usam os Smart Contracts como uma inovação positiva, só que essa tecnologia em mãos autoritárias pode ser o fim da autonomia financeira. Inclusive a China está lançando uma plataforma de NFT aprovada pelo governo, ou seja, totalmente centralizada.

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China vai lançar uma plataforma de NFT

Diga adeus ao dinheiro de papel

Outro objetivo é acabar com o dinheiro de papel, que é um tipo de dinheiro que não depende de bancos para custodiar. Acabar com o dinheiro de papel é tirar o direito das pessoas de terem a posse do próprio dinheiro sem precisar pedir permissão pra ninguém para usá-lo. Acabar com ele é empurrar as pessoas na direção desse controle absoluto.

Esse objetivo de poder controlar como e onde as pessoas vão gastar o próprio dinheiro não é só coisa na CBDC chinesa. O BIS, o Banco Central dos Bancos Centrais também falou a mesma coisa. Nesse vídeo o diretor do BIS fala que as CBDCs permitirão ter um controle absoluto e direcionar os gastos:

 
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Dennis Parker do BIS

E aqui no Brasil com o Real Digital não está nada diferente. O Banco Central pretende unir a CBDC ao Pix e ao Open Finance, ou seja, não só os seus gastos poderão ser monitorados pelo governo mas também compartilhados entre todos os bancos. Além disso, o Real Digital poderá também ter travas para evitar saques em massa em caso de crise financeira. Sacanagem né?! O dinheiro é seu, mas quando você mais precisar, pode não conseguir sacar.

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Outra coisa que querem fazer é integrar com plataformas Defi, de contratos inteligentes, e internet das coisas. Fica a pergunta: o Banco Central irá estimular comportamento especulativo para também poder lucrar com ele, assim como exchanges fazem?

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Em resposta a todas essas críticas, o pessoal do Banco Central fala que que brasieliro não é Chinês e que não vai tolerar uma moeda de vigilância em massa. Mas os brasileiros não cobram nem de político que ele faça o trabalho que se comprometeu, imagina antever e se preocupar com algo que mal entende ainda!

Enquanto isso a divulgação do Real Digital está a todo vapor, dando a ideia de ser uma espécie de moeda melhor que bitcoin mas na verdade é inflacionável, confiscável, controlável, de código fechado, sem transparência e que a população não consegue verificar por conta própria. Na verdade é o OPOSTO do bitcoin! O real digital é fiat usando esteróides.

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Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central, comentou que quer um piloto em 2023 para fazer o lançamento da moeda em 2024. O objetivo é criar um sistema descentralizado de custódia de ativos digitais e estimular os bancos a tokenizar seus ativos, ou seja, transformar bens físicos ou produtos financeiros tradicionais ativos digitais.

Outra pergunta que fica é: como vai ser descentralizado se vai depender de um Banco Central tendo poder de decisão? São eles mesmos que mandam nesse código fechado. Já nasce centralizado e sem qualquer chance de descentralizar. Ou eles vão fazer plebiscito pra decidir a política monetária e as mudanças no protocolo? Com certeza não vão. E mesmo se fizessem, ainda assim não seria descentralizado porque descentralização significa sem um único ponto de falha, aberto a todos e sem censura, coisa que o real digital não será.

Real Digital é mais do mesmo disfarçado de inovação

Assim como em qualquer outra criptomoeda, não adianta se autodenominar descentralizada mas só um grupo de pessoas que decide as regras. Isso é teatro de descentralização que o Banco Central brasileiro tanto critica e quer importar para a sua política monetária.

Falam que o Real Digital será programável, mas não confunda programável com previsível. As regras continuarão mudando de maneira imprevisível. Você por acaso sabe qual é a política monetária do real pros próximos 100 anos? Não sabe, nem pra daqui 2 meses! No Bitcoin a gente sabe qual vai ser a política monetária pros próximos 100, 200, 500 anos. É previsível porque é imutável.

No fim das contas se o governo pode controlar como as pessoas gastam o próprio dinheiro, eles acabam tendo controle total sobre oferta e demanda: imprimem dinheiro de um lado e ainda controlam como as pessoas poderão gastar de outro.

Apesar do governo querer vender o Real Digital como uma moeda digital mais segura e transparente que o bitcoin, é a antítese do que significa ser seguro e transparente. Dá poderes absolutos para entidades que nunca trabalharam para manter seguro o poder de compra da população, afinal o Real em 28 anos de vida já perdeu 86% do seu poder de compra. Se Bancos Centrais buscassem mesmo segurança, não destruiriam nosso poder de compra dessa forma.

O Real Digital não é uma tecnologia qualquer, é uma ferramenta de expansão de poder e de vigilância em massa. O Bacen deveria pelo menos tornar o código público e aberto porque isso é direto de toda a população: saber o que está usando. Pra mim, dinheiro digital de verdade só o bitcoin, o Real Digital é uma arapuca pra te manter preso na matrix financeira. Bitcoin nos tira dela.

Quer aprender como manter a sua soberania financeira mesmo que as CBDCs venham com tudo? No Bitcoin Starter eu ensino do básico ao avançado sobre Bitcoin, como comprar e também como guardar com segurança sem depender de ninguém. Te espero na nossa turma de soberanos.

Até mais e opt out.

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Carol Souza

Carol é uma das principais educadoras de Bitcoin no Brasil. Ela participou de seminários para desenvolvedores de Bitcoin e Lightning da Chaincode (NY) e é palestrante em conferências sobre Bitcoin ao redor do mundo.

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