Blockchain é a tecnologia que possibilita o registro de informações de forma segura, imutável e transparente, mesmo entre pessoas que não se conhecem ou nunca se viram na vida. Além disso, é a blockchain que possibilita transferir valores digitalmente sem precisar de intermediários, como bancos ou cartórios.

Essa tecnologia ficou muito conhecida através do bitcoin, mas o que poucos sabem é que blockchain já existia muito antes, porém era uma ideia adormecida até Satoshi Nakamoto resolver usá-la.

Mas, o que realmente é a Blockchain? Como funciona? Confira tudo sobre esta tecnologia abaixo!

Como blockchain surgiu?

A tecnologia conhecida como blockchain não tinha sequer um nome quando foi concebida em 1991, quase duas décadas antes do surgimento do Bitcoin. Ela foi desenvolvida por Stuart Haber e Scott Stornetta, dois indivíduos amplamente reconhecidos como seus criadores.

Stuart Haber (esquerda) e Scott Stornetta (direita)
Stuart Haber (esquerda) e Scott Stornetta (direita)

Eles eram funcionários da Xerox, uma empresa famosa por inventar a fotocopiadora e, de maneira irônica, foram eles mesmos que desenvolveram uma tecnologia que impossibilita a cópia.

Stuart e Scott sentiram a necessidade de criar um sistema de registros digitais imutáveis devido a um escândalo ocorrido na época envolvendo um artigo de biologia que havia sido fraudado. Nesse caso, foi possível alterar o conteúdo do artigo utilizando uma tinta especial, o que motivou a busca por um método mais seguro de registro e verificação de informações.

Ambos Stuart e Scott ficaram chocados com a facilidade de falsificação de dados registrados em papel e perceberam que, no ambiente digital, isso seria ainda mais simples, bastando pressionar um botão para deletar ou editar informações. Com o objetivo de solucionar esse problema, eles conceberam a ideia de criar blocos de informações interligados de forma imutável, em que nada poderia ser editado ou excluído. Essa abordagem permitiria a criação de um sistema confiável e seguro para o armazenamento e verificação de dados digitais.

Em 1992 eles incluíram criptografia nesse mecanismo de registros e até 2008 essa invenção não tinha nome e nenhum caso de uso real.

Nem mesmo no white paper do Bitcoin, de Satoshi Nakamoto, aparece a palavra BLOCKCHAIN como a gente fala hoje.

Satoshi se referiu a blocos de informação (blocks) e dados em cadeia (chain) usando funções de hash. Mas, de tanto que a palavra block e a palavra chain aparecem no whitepaper, foi natural unir as duas e chamar esse sistema de BLOCKCHAIN.

Além disso, conforme você pode ver abaixo, o nome dos dois (S. Haber e S. Stornetta) são referenciados por Satoshi Nakamoto no white paper do Bitcoin:

referências ao Stuart Haber e Scott Stornetta no white paper do Bitcoin

O significado de blockchain

A tradução literal significa corrente de blocos, ou seja, são blocos de informações atrelados uns aos outros.

É como um tecido digital, você não consegue puxar o bloco do meio da cadeia sem afetar os blocos seguintes.

Assim como quando você puxa o fio de um tecido e altera toda a costura que vem na sequência, blockchain é como uma costura digital, se qualquer alteração for feita, todos perceberão que algo está errado com aquela parte da cadeia, como se houvesse um emaranhado.

Depois de registrado em blockchain as informações ficam registradas na história da cadeia de blocos, por isso blockchain também serve como uma linha do tempo onde os fatos não podem ser modificados, por isso é uma rede imutável e irreversível.

É possível modificá-la?

Para tentar modificar o blockchain do Bitcoin, por exemplo, a única oportunidade viável seria nos primeiros momentos após a criação dos blocos, quando é teoricamente possível tentar reverter essas transações. No entanto, essa tarefa exigiria um poder computacional extraordinário para invadir pelo menos 51% da rede e um intervalo de tempo bastante curto, geralmente entre 10 a 30 minutos em média.

Além disso, esse tipo de ataque teria um custo exorbitante, na casa dos bilhões de dólares, e ainda assim não garantiria um ataque efetivo, sendo mais provável apenas a reversão de uma transação específica na mempool, e não de todo o bloco.

Essa é a razão pela qual, após a criação de aproximadamente 6 blocos, ou em média uma hora, considera-se que as informações no blockchain se tornam imutáveis. A dificuldade e o custo para reverter as informações aumentam a cada bloco adicionado.

Nesse contexto, o blockchain do Bitcoin é o mais longo e requer um poder computacional significativo para ser invadido. Por esse motivo, ele é amplamente considerado o blockchain mais seguro até o momento.

O papel dos mineradores

As informações são adicionadas à rede por meio de computadores de alto desempenho conhecidos como mineradores. Esses mineradores são responsáveis por resolver quebra-cabeças criptográficos.

Assim, quando encontram a resposta correta, a rede valida a solução, registra o bloco na blockchain e os mineradores são recompensados com bitcoins por terem emprestado seu poder computacional para manter a rede em funcionamento.

Esse processo é chamado de prova de trabalho (proof of work) na rede do Bitcoin e é o mecanismo que desbloqueia novas moedas do protocolo à medida que os blocos de informação são criados.

Portanto, isto funciona como um jogo, onde o computador que resolver o problema criptográfico primeiro recebe os Bitcoin da rodada.

Os mineradores estão competindo entre si o tempo todo para ver quem chega primeiro no resultado para receber os bitcoins do bloco. E são poucos, só serão criados 21 milhões de bitcoins até o ano de 2140.

Se você quer entender mais sobre mineração de bitcoin, nesse vídeo a gente te explica:

Como funciona a blockchain?

Vamos supor que a gente esteja olhando para a blockchain do bitcoin.

Cada bloco contém informações sobre as transações financeiras feitas na rede como por exemplo: endereço A enviou 2 Bitcoin pra endereço B e também uma marcação digital (um carimbo) de data e hora chamado timestamp.

Todos esses dados formam o conteúdo de cada bloco e são misturados de forma aleatória e transformados em um hash.

O que é hash?

Hash é um código criptografado, como esse abaixo na foto, que resume e identifica tudo o que está dentro daquele bloco de informação.

código hash de um bloco
código hash de um bloco

É a partir do hash que a mágica funciona.

Depois de criado o HASH1 do bloco 1, ele será inserido junto com o conteúdo do próximo bloco, o bloco 2, que será liquidificado (misturado de forma aleatória) e vai formar o HASH2. Por isso, o HASH2 resume todo o conteúdo do seu bloco e também do bloco anterior, porque o HASH1 foi inserido dentro do conteúdo do bloco 2.

funcionamento da blockchain bitcoin
funcionamento da blockchain bitcoin

E assim sucessivamente…Portanto, o HASH3 vai ser o resumo criptográfico do bloco 3 que também contém no seu conteúdo, o HASH do bloco 2, que é anterior.

É através dessas funções de hash que acontece o encadeamento da rede. Ou seja, os blocos seguintes sempre terão um resuminho dos blocos anteriores.

Por que blockchain é imutável?

A tecnologia blockchain pode ser considerada um sistema de registros distribuído. Todos os computadores que participam do processamento da rede possuem cópias de todos os blocos de informação já criados.

Dessa forma, se qualquer informação dentro de um bloco for alterada, mesmo que seja apenas uma vírgula, um espaço ou um acento, isso resultará em uma mudança no hash desse bloco. Consequentemente, o hash não será mais compatível com a sequência de hashes já consolidados na cadeia.

Assim, a rede não aceitará essa alteração, pois não estará em conformidade com a cópia do blockchain armazenada em todos os computadores.

Resistente e descentralizado

É por isso que blockchain é um mecanismo extremamente resistente e inteligente quando de fato descentralizado. Você não depende mais de um único servidor para armazenar informação, os dados ficam distribuídos, com milhares de cópias. Portanto, para destruir uma blockchain você precisaria destruir todas as cópias que existem.

Assim sendo, esse sistema garante também que nenhum dado seja perdido, todos podem verificar a veracidade dos registros, tudo é feito em tempo real, de forma sincronizada e transparente.

Além disso, qualquer pessoa pode auditar a rede, o que aumenta a segurança, a eficiência, a confiança nos registros e elimina a necessidade de terceiros ou intermediários como uma única fonte de informação.

O grande trunfo do blockchain é esse: eliminar a necessidade de intermediários.

Uma rede descentralizada como o Bitcoin encontrou seu primeiro caso de uso natural no âmbito financeiro. No sistema financeiro tradicional, confiamos em intermediários para criar a moeda e implementar políticas monetárias (os Bancos Centrais), bem como para facilitar a transferência de dinheiro para a população (os bancos comerciais).

No entanto, com o Bitcoin, a confiança é descentralizada, eliminando a necessidade de intermediários nesse processo. A natureza distribuída do Bitcoin permite que as transações financeiras ocorram diretamente entre as partes, sem a necessidade de uma autoridade central. Dessa forma, o Bitcoin oferece uma alternativa descentralizada e autônoma ao sistema financeiro tradicional.

Como bem disse Satoshi, a nossa história está repleta de violações dessa confiança, seja pelos Bancos Centrais manipulando as políticas monetárias e inflacionando a própria moeda, seja via bancos comerciais criando mecanismos que dificultam o acesso das pessoas ao seu próprio dinheiro.

Você já tentou sacar valores altos da sua conta bancária? Se você já fez isso, certamente precisou passar pela aprovação do gerente do banco. Isso nos mostra o quanto não somos livres para movimentar nosso próprio dinheiro e precisamos sempre pedir permissão e ficar dependente desses intermediários.

Outros casos de uso de blockchain

Diversos setores estão utilizando blockchains centralizadas. Os casos de uso vão desde automatizar registros de uma linha de produção, a garantir que informações não serão perdidas ou modificadas ao longo do tempo, para registrar votos, autorias ou contratos e até mesmo tokenizar ativos do sistema financeiro tradicional.

Esse último caso de uso é um dos mais utilizados hoje em dia por bancos e instituições financeiras e está começando a ganhar tração, a medida que agiliza processos, diminui custos e se cria um mercado secundário de ações e títulos que antes não era possível.

Mas, é importante frisar que nesses casos as blockchains utilizadas possuem características de centralização e em nada se parecem com a blockchain bitcoin.

Leia também: o que é análise on chain?

Qual a diferença entre Bitcoin e blockchain?

A tecnologia blockchain por si só não é mágica! Não adianta usar blockchain em tudo e achar que só isso torna os registros imutáveis e irreversíveis. Blockchain só tem essas propriedades se for descentralizada e a descentralização verdadeira acontece apenas no Bitcoin.

No mais, ela serve como uma base de registros gerenciada por empresas, que centralizam o poder de decisão.

Essa centralização acaba com o sentido de usar blockchain e não outros mecanismos de registros convencionais.

O valor do Bitcoin está justamente na descentralização e na união de várias tecnologias como blockchain e proof of work que, em uma configuração especifica, tornam essa rede segura.

Blockchain e descentralização andam de mãos dadas

Blockchain e descentralização estão intrinsecamente ligadas, permitindo sistemas seguros e transparentes sem a necessidade de uma autoridade central. Essa tecnologia capacita os participantes da rede, possibilitando transações diretas, redução de intermediários e maior eficiência em diversos setores.

Para funcionar, uma rede descentralizada precisa ser:

Neutra

Não importa quem você é, onde você mora, qual a sua aparência, qual seu partido político, nada sobre você irá te impedir de usar a rede.

A sua transação será propagada independente de qualquer característica sua, o que não acontece no sistema financeiro tradicional.

No sistema tradicional se você não fornecer um endereço e um CPF válido você não consegue ter uma conta bancária, ou seja, você acaba sendo excluído do sistema.

Sem fronteiras

Assim como a internet, uma rede descentralizada não é de nenhum país, mas está em todos os lugares, especialmente porque dinheiro se tornou informação.

Bitcoin não é de nenhum país, mas ao mesmo tempo é de todos os países, então não pode ser considerado uma moeda estrangeira, ao mesmo tempo que não há um órgão emissor.

Isso muda toda a geopolítica global e está deixando os Bancos Centrais em uma saia justa pois bitcoin pode separar o dinheiro do estado, assim como no passado separou a religião do estado.

Aberta

Qualquer pessoa pode acessar, é só se conectar a rede. Não tem como impedir que as pessoas acessem.

Resistente a censura

Isto significa que não tem como parar a rede, porque dinheiro também é uma linguagem, um sistema de comunicação, de comunicar valor.

E liberdade de expressão é um direito humano!

Muitos governos não concordam com isso, mas os governos nunca concordaram com muitas coisas ao longo da história que foram demandadas pelas pessoas.

Leia também: Governos podem proibir o Bitcoin?

Pública

Ou seja, os dados estão disponíveis para todo mundo verificar, portanto, ninguém pode trapacear ou monopolizar essas informações.

Conclusão

A grande revolução financeira está em perceber que agora o dinheiro virou um software, um protocolo. Dinheiro não é mais por decreto, o que nos dizem que é ou não é.

Ao mesmo tempo que muda nossa visão secular sobre a fisicalidade do dinheiro, a gente retoma a confiança no valor das coisas através de uma revolução financeira que nos garante que o dinheiro não pode mais ser manipulado, inflacionado ou corrompido através da decisão de terceiros.

Apesar de existirem vários outros projetos com blockchains próprias, definitivamente não possuem todas as características e nem a descentralização que a blockchain bitcoin tem.

Bitcoin é muito parecido com a internet no seu início, um protocolo aberto onde todo mundo pode participar e usar da forma como quiser.

Blockchain é apenas uma peça dessa engrenagem. E se a internet já mudou a vida no planeta terra, imagina o que bitcoin vai fazer nos próximos anos…

Se você quer se aprofundar no bitcoin e aproveitar as próximas ondas de valorização dessa tecnologia que está avançando em adoção no mundo todo, o nosso curso de Bitcoin Starter é seu ponto de partida.

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Carol Souza

Carol é uma das principais educadoras de Bitcoin no Brasil. Ela participou de seminários para desenvolvedores de Bitcoin e Lightning da Chaincode (NY) e é palestrante em conferências sobre Bitcoin ao redor do mundo.

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