Neste artigo, exploraremos o impacto do Efeito Cantillon, uma teoria que revela como a criação de dinheiro e a proximidade com o poder influenciam a distribuição de riqueza.

Além disso, vamos examinar como o excesso ou a escassez de dinheiro afeta seu valor e como isso contribui para a disparidade econômica.

Descubra as raízes profundas da desigualdade econômica em nosso sistema atual e prepare-se para desvendar o mistério do Efeito Cantillon e entender sua relevância nos dias de hoje.

Richard Cantillon e o Efeito Cantillon

Você sabia que a pobreza e a desigualdade são condições do sistema econômico e financeiro atual?

Isso ocorre porque a principal causa do empobrecimento populacional é a forma como o dinheiro é criado.

Essa teoria não é nova, pois foi descrita no ano de 1730 por um escritor chamado Richard Cantillon. Entretanto, já se passaram quase 300 anos e ainda se fala muito pouco sobre os eventos descritos por ele.

No século 18, Richard Cantillon demonstrou que, quanto mais próximo do rei, mais você se beneficia do dinheiro recém-criado e mais rico se torna.

Por outro lado, quanto mais distante do rei você estivesse, mais sofreria com a criação de dinheiro novo pelo Estado e mais pobre se tornaria ao longo do tempo devido à inflação.

Sim, em 1730, já existia inflação!

Isso ocorre porque toda criação de dinheiro novo resulta em um aumento na quantidade de dinheiro em circulação. A lei da oferta e da demanda também se aplica ao dinheiro. Portanto, tudo o que existe em excesso se desvaloriza, torna-se mais barato, se a demanda permanecer a mesma. E tudo o que é escasso, raro, tende a se valorizar se a demanda continuar existindo.

Hoje em dia não existem mais reis, mas os efeitos ainda são os mesmos.

O que é o Efeito Cantillon?

O Efeito Cantillon é uma teoria econômica que descreve como a expansão monetária favorece quem a recebe primeiro, como bancos e grandes empresas, gerando desigualdade econômica ao prejudicar os que a recebem por último.

Como funciona o Efeito Cantillon?

O Efeito Cantillon funciona assim: a criação de dinheiro beneficia primeiro quem o recebe, permitindo compras a preços atuais. Conforme o dinheiro circula, os preços aumentam, prejudicando quem o recebe por último devido aos preços mais altos.

Assim, quando o Banco Central cria novas notas – ou gera mais dinheiro digitalmente – e as envia para os bancos comerciais, ocorre um aumento na quantidade de dinheiro em circulação. Como a demanda por dinheiro é constante, essa criação de dinheiro novo tende a diluir o valor da moeda já existente.

Portanto, a consequência disso é que a introdução de mais dinheiro na economia provoca inflação, desvalorização da moeda e aumento nos preços.

Os efeitos inflacionários decorrentes da criação ilimitada de dinheiro não são imediatos, levando meses ou anos para se manifestarem.

Logo, quando as pessoas mais distantes da fonte emissora recebem o dinheiro recém-criado, ele já está desvalorizado, os preços dos produtos já aumentaram e o processo inflacionário já ocorreu.

Quem se beneficia do efeito cantillon?

Quem se beneficia do Efeito Cantillon são os bancos e instituições financeiras, seguidos de grandes empresas e empresários, e depois os proprietários de ativos financeiros.

Mas, como?

  1. Bancos e instituições financeiras: Eles têm acesso imediato ao novo dinheiro e podem usá-lo para emprestar, investir ou especular nos mercados financeiros.
  2. Grandes empresas e empresários: Eles também têm maior acesso ao novo dinheiro e podem usá-lo para expandir seus negócios, adquirir ativos ou investir em projetos lucrativos.
  3. Proprietários de ativos financeiros: Aqueles que possuem ações, títulos ou outros ativos financeiros podem ver seus valores aumentarem à medida que o novo dinheiro é injetado na economia e busca oportunidades de investimento.

Esses grupos costumam se beneficiar inicialmente do aumento da oferta monetária antes que os preços subam, permitindo-lhes aproveitar o poder de compra adicional do novo dinheiro.

No entanto, à medida que o dinheiro se dissemina pela economia e os preços aumentam, os efeitos podem se tornar menos vantajosos para eles e podem até ser prejudiciais para os grupos que recebem o dinheiro mais tarde, como trabalhadores assalariados e aposentados com rendas fixas.

A foto abaixo mostra muito bem como é o efeito cantillon.

Efeito Cantillon

Assim, como você pode ver:

  1. Os Bancos Centrais criam o dinheiro e distribuem para bancos e instituições financeiras.
  2. O setor financeiro (corporações e fundos) utiliza o dinheiro recém-emitido para adquirir ativos, títulos, fundos e ações com uma moeda que ainda não foi afetada pela inflação, ou seja, que ainda não sofreu desvalorização.
  3. Após, o dinheiro chega aos executivos e acionistas, através de dividendos ou bônus.
  4. E aí sim, o mesmo é destinado a pagar trabalhadores e consumidores (ou seja, todos nós).

Conforme o dinheiro é utilizado e gasto, o processo inflacionário é desencadeado, afetando todos os produtos, bens e serviços.

Portanto, os ativos adquiridos no início da cadeia, antes do efeito inflacionário, também acabam se valorizando.

Instituições financeiras

As instituições financeiras se beneficiam desproporcionalmente desse sistema, pois podem adquirir mais bens, serviços e ativos a preços relativamente mais baixos.

Isso resulta em um ganho duplo:

  1. Pela compra de ativos mais baratos;
  2. Pelo aumento de preços quando a inflação ocorre.

Dessa forma, elas nunca perdem!

Trabalhadores e pessoas distantes do orgão emissor

Quando o dinheiro chega aos trabalhadores e às pessoas que estão mais distantes do órgão emissor, ocorre o contrário.

Neste caso, a inflação já está em andamento e não há tempo para se proteger. Ou seja, o salário já não consegue comprar os mesmos produtos como antes.

É por isso que as pessoas mais pobres são as mais prejudicadas pela inflação e pelos problemas econômicos. Portanto, aqueles que não possuem ativos e guardam apenas dinheiro sofrem ainda mais com a perda do poder de compra ao longo do tempo.

No fim das contas, os programas sociais amenizam, mas não resolvem essa discrepância causada pelo efeito Cantillon e propagada pelos Bancos Centrais e instituições financeiras.

Qual o efeito disso na economia?

O efeito disso na economia é a ampliação da desigualdade, pois o novo dinheiro beneficia desproporcionalmente bancos, grandes empresas e detentores de ativos, concentrando a riqueza nessas mãos.

No gráfico abaixo, podemos observar que quando combinamos todas as emissões de dinheiro pelos Bancos Centrais ao redor do mundo, ele se encaixa perfeitamente em um gráfico da bolsa de valores americana.

É o efeito Cantillon materializado diante dos nossos olhos.

Os Bancos Centrais emitem dinheiro, repassam para os bancos em todo o mundo e esses bancos compram ativos e títulos na bolsa de valores americana.

A sobreposição desses gráficos mostra claramente a injeção de dinheiro que os Bancos Centrais estão colocando no mercado de ações.

gra fico efeito cantillon S P500

Neste outro gráfico abaixo, como exemplo, podemos observar que o número de horas necessárias para uma pessoa comprar ações na bolsa americana tem aumentado ao longo dos anos.

Ou seja, é necessário trabalhar cada vez mais para adquirir a mesma ação do S&P 500. Isso evidencia o efeito da inflação sobre os ativos financeiros, especificamente sobre os papéis das ações americanas.

Gráfico de horas de trabaho necessárias para comprar ações S&P500

Setor Financeiro

Todo esse processo acaba beneficiando o setor financeiro, que é o setor que mais cresceu nos últimos anos em comparação ao restante da economia e é o que mais cresce durante as crises, justamente porque a inflação aumenta.

Portanto, assim como os produtos nos supermercados também aumentam de preço em um processo inflacionário, os ativos são produtos financeiros que também valorizam com a inflação.

Logo, quem mais se beneficia durante este processo são aqueles que possuem mais ativos, ou seja, o setor financeiro.

Gráfico comparativo do mercado financeiro

Isso só mostra o quanto o dinheiro não é NEUTRO.

Enquanto observamos a crescente desigualdade de renda nas últimas três décadas, as políticas monetárias dos Bancos Centrais alimentam uma série de bolhas nos preços dos ativos.

Já testemunhamos a bolha da internet, a bolha imobiliária durante a crise de 2008 e a crise da pandemia em 2022, na qual foi observada uma nova bolha no mercado de ações de tecnologia.

É por isso que, se não mudarmos a forma como o dinheiro é criado, o sistema continuará a aumentar a desigualdade e a perpetuar todos os problemas sociais causados por essa injustiça econômica.

No fim das contas, o efeito Cantillon, a inflação e a desigualdade beneficiam e sempre irão beneficiar aqueles que estão no topo do sistema financeiro atual.

Como o Bitcoin pode reduzir o impacto do Efeito Cantillon?

O Bitcoin pode reduzir o impacto do Efeito Cantillon através de seu sistema monetário descentralizado e oferta limitada, retirando a concentração de riqueza nas mãos de poucos.

Portanto, o Bitcoin retira das mãos dos Bancos Centrais e dos grupos de interesse o poder de criar dinheiro do nada, de forma ilimitada e arbitrária.

E isso é revolucionário.

O Bitcoin possui um número finito de unidades, não podendo ser criados mais Bitcoins além do que está programado. Além do mais, ele é descentralizado, não possui dono, portanto, não há possibilidade de um grupo ou um Banco Central assumir o controle e manipular a política monetária conforme lhes convém.

Além disso, o Bitcoin te dá total propriedade sobre o seu patrimônio.

Dessa forma, enquanto você possuir suas chaves privadas, ninguém poderá confiscar ou impedir que você utilize seus Bitcoins.

É a maneira mais pacífica de adotar um sistema financeiro e uma nova economia mais transparente, justa e imune à corrupção.

Resumindo

Os governos ao redor do mundo implementam programas sociais para mitigar problemas que, ironicamente, suas próprias políticas muitas vezes causam.

Embora esses programas ofereçam ajuda imediata a muitos, eles funcionam como soluções temporárias que abordam mais os sintomas do que as raízes da desigualdade econômica.

A longo prazo, políticas monetárias que favorecem a exclusão apenas ampliam a dependência da população em relação à assistência do governo.

Uma dessas políticas é a prática que resulta no Efeito Cantillon, onde a criação e distribuição desigual de dinheiro novo amplia a desigualdade, beneficiando primeiramente instituições financeiras e indivíduos já ricos.

Criar CBDCs (Central Bank Digital Currency) para aprimorar e monitorar transações financeiras não resolve o problema central se a moeda permanece vulnerável à manipulação e corrupção.

Portanto, a única solução para escapar dessa matrix financeira é adotar o Bitcoin, uma alternativa descentralizada e limitada que pode mitigar o impacto do Efeito Cantillon, promovendo uma distribuição de riqueza mais justa e estável.

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Carol Souza

Carol é uma das principais educadoras de Bitcoin no Brasil. Ela participou de seminários para desenvolvedores de Bitcoin e Lightning da Chaincode (NY) e é palestrante em conferências sobre Bitcoin ao redor do mundo.

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