Por que a SingularityNET, a AGIX, é uma shitcoin?

A SingularityNET (AGIX) tem dado o que falar, e não exatamente por bons motivos. Rotulada por muitos como uma shitcoin, essa cripto tem levantado sobrancelhas e perguntas.

Mas, o que faz dela uma shitcoin?

Neste artigo, vamos mergulhar sem rodeios no universo da criptomoeda AGIX, explorando os altos e baixos e tudo o mais que a coloca nessa lista de shitcoins.

Preparado para uma jornada pelo lado menos glamouroso das criptomoedas? Vem com a gente!

Origem da criptomoeda AGIX

A criptomoeda AGIX foi fundada pelo pesquisador de IA, Dr. Ben Goertzel, e pelo designer de robôs realistas, David Hanson, CEO da Hanson Robotics, no qual também trabalhou para a Walt Disney, criando esculturas e tecnologias robóticas para parques temáticos.

A SingularityNET (AGIX) tem como objetivo oferecer serviços de inteligência artificial em escala e criar um mercado descentralizado de IA de código aberto.

Web Mind

Ben Goertzel já havia fundado anteriormente uma empresa de IA, a Web Mind, que faliu durante a bolha das ponto com.

Ele passou três anos, de 1998 a 2001, desenvolvendo o Web Mind AI Engine, “o sistema de IA mais avançado do mundo, destinado a, quando completo, exibir verdadeira inteligência em nível humano”. Seu objetivo era nada menos que recriar o cérebro humano! O mecanismo estava programado para ser concluído em meados de 2002.

Contudo, o que Ben conseguiu foi apenas criar um preditor de mercado para as ações da NASDAQ.

Segundo a própria Web Mind, a situação financeira da empresa foi o resultado de um investidor-chave que cancelou abruptamente uma rodada multimilionária de financiamento. Ou seja, a empresa terceirizou a culpa, mesmo tendo recebido um financiamento de 20 milhões e gastado tudo sem entregar nada do prometido.

Ben Goertzel se beneficiou da bolha da internet nos anos 2000 e agora retorna para buscar sua parcela na bolha das criptomoedas através da SingularityNET.

ICO (Venda Pública)

A SingularityNET realizou seu ICO em dezembro de 2017, durante o rali do ciclo de alta que levou muitas criptomoedas a atingirem suas máximas históricas.

Foi um dos lançamentos mais rápidos da história, arrecadando $32 milhões em 66 segundos! Até hoje, o site está lá para contar a história.

Como a SingularityNET funciona?

A SingularityNET se propõe a prestar diversos serviços de IA, desde curadoria e redes sociais até publishers, armazenamento, desenvolvimento de cognição, longevidade e staking.

No entanto, isso parece bastante ambicioso, pois, apesar de Dr. Ben ser um renomado pesquisador de IA, ele ainda não comprovou sua capacidade de criar uma inteligência artificial genuína, muito menos de vincular IA a todas essas áreas, incluindo finanças descentralizadas (DeFi).

O sistema da AGIX utiliza Prova de Reputação (PoR) como mecanismo de consenso, onde a reputação de um nó é construída com base em seu ativo, atividade de transação e participação no consenso. Novos blocos são gerados pelo nó líder com a maior reputação, depois validados e confirmados por meio de votação também baseada em reputação.

Entretanto, se a validade dos blocos se apoia na reputação, o próprio conceito de prova de reputação tem seus incentivos voltados para a centralização, pois exige uma hierarquia reputacional da rede e, consequentemente, uma liderança.

Toda liderança acaba sendo uma entidade centralizadora do poder de decisão.

Prova de Reputação

A SingularityNET trata o PoR como algo mais efetivo que o Proof of Work (PoW). Porém, a reputação é um conceito intrinsecamente político e não matemático, ao contrário do PoW, que é baseado em fundamentos matemáticos e não políticos.

Além disso, chega a ser bizarro ver imagens como essa abaixo, e ver alegações de que o PoR seja superior ao PoW em termos de resiliência a ataques, especialmente quando não há evidências concretas para apoiar essa afirmação.

Supply e Distribuição dos tokens AGIX

A SingularityNET foi lançada na blockchain Ethereum em 2017 com um limite de 1 bilhão de tokens AGIX. Todos esses tokens foram pré-minerados, ou seja, emitidos sem passar pelo consenso da rede.

A distribuição inicial ocorreu da seguinte forma:

• 18% para membros da equipe
• 8% para desenvolvimento futuro
• 4% para premiações a contribuições de desenvolvedores
• 20% para o pool de recompensas
• 50% para a pré-venda e ICO

Essa distribuição indica que apenas 20% dos tokens AGIX serão entregues como recompensas por participar da validação de blocos, enquanto todo o restante foi alocado desde o primeiro dia.

Esse lançamento beneficia assimetricamente os insiders e não foi transparente quanto aos participantes da pré-venda inicial, já que ela e o ICO (venda pública) foram completamente integrados.

Em 2021, a SingularityNET decidiu emitir mais tokens AGIX.

A história torna-se muito semelhante à da Webmind: a SingularityNET precisou de mais financiamento e optou por emitir novos tokens para esse fim. Foi então que o projeto realizou um hard fork para a blockchain Cardano, expandindo o supply total de AGIX para 2 bilhões.

Com a Proposta da Fase 2, a comunidade decidiu cunhar outros 1 bilhão de tokens adicionais que serão liberados ao longo de 91 anos, como mostra a imagem abaixo.

Proposta da Fase 2

A votação ocorreu sem transparência pública; é necessário ter uma senha para acessar a votação. Se você não possui a senha, não é autorizado a verificar o processo.

Mas, um protocolo que se diz open source deveria manter as mudanças abertas e verificáveis publicamente, sem necessidades de senhas, certo?

A proposta da Fase 2 foi feita pela fundação, a mesa executiva e os insiders. Ao clicar em “link to vote”, é solicitada uma senha de acesso, como você pode ver abaixo.

Assim, em uma votação a portas fechadas, a Singularity decidiu dobrar a oferta de tokens AGIX.

Provavelmente foi uma decisão de cima para baixo, tornando impossível verificar os votos. Foi necessário SUBSTITUIR o contrato Ethereum existente e realizar um hard fork que tornou o antigo AGI obsoleto e lançou o novo token AGIX.

Qualquer validador que se opusesse à expansão do supply e ao fork para outra rede acabou sendo excluído, já que hard forks não são retrocompatíveis. Ou seja, usuários não podem rodar versões antigas; caso contrário, sairão do consenso e serão excluídos da rede.

Os novos 1 bilhão de tokens AGIX foram totalmente distribuídos para insiders e entidades vinculadas à SingularityNET, sem nenhuma venda pública, como mostra a imagem abaixo.

Portanto, a única maneira de as pessoas acessarem esses novos tokens seria por meio do DEEP Funding, uma estratégia de marketing e financiamento para quem cria soluções em IA no protocolo.

O DEEP Funding passa por uma seleção e, portanto, é mais um mecanismo centralizado, já que o processo não é matemático e envolve a opinião/validação de terceiros, assemelhando-se mais a um processo seletivo de emprego do que a um consenso computacional.

Mais uma barreira de entrada…

Assim, a proposta foi feita, aprovada e distribuída internamente, conferindo ainda mais poder aos insiders da SingularityNET. Se a maior parte dos tokens está com os insiders e o projeto prevê staking, esses participantes terão mais influência na rede.

No fim das contas, a distribuição dos tokens AGIX continua favorecendo aqueles com maior poder de decisão, neste caso, a SingularityNET Foundation, seus fundadores e os novos braços criados para esse ecossistema.

E se o supply já foi expandido uma vez, o que impede que seja expandido novamente?

Poder de decisão e Governança da SingularityNET

A empresa por trás da SingularityNET é a SingularityNET Foundation, uma organização sem fins lucrativos localizada em Amsterdã.

A fundação foi criada para promover o desenvolvimento da SingularityNET (AGIX), gerenciar a evolução e a governança da rede. O objetivo é evoluir para um modelo de governança no qual a comunidade participe do processo decisório por meio de uma DAO (organização autônoma descentralizada), a SingularityDAO (SDAO). Com isso, a SingularityNET visa ser ainda mais “descentralizada e democrática” e cumprir seu objetivo de ser o primeiro projeto de AI-DeFi.

Contudo (pois é..), a SDAO também não foi criada de maneira justa e democrática.

Em agosto de 2020, os principais membros da equipe da SingularityNET se reuniram para conceituar o SingularityDAO e receber apoio financeiro das principais empresas de capital de risco e investimento do mundo, como AlphaBit, Genesis Block Ventures, SMO Capital, QCP Capital, AU21, Jun Capital, Magnus Capital, Moonwhale Ventures e Phoenix VC.

Por isso, a SDAO também não é descentralizada. A decisão foi hierárquica e ainda contou com investidores privados, como uma startup faria no início de seu roadmap.

A distribuição de tokens SDAO foi totalmente voltada para insiders. Apenas 2,3% foi destinado à venda pública e 35% para farming. Ou seja, mesmo migrando para a governança, o protocolo continua nas mãos de insiders que mantêm a maior parte dos tokens de governança.

Afinal, para poder “farmar”, é necessário ter tokens do protocolo, e quem possui a maior parte deles são a equipe, os investidores e os fundos especiais criados por eles.

Compliance

Assim como Cardano, a SDAO realizou KYC de todos os participantes do evento de lançamento do token de governança.

O mais preocupante é que algumas regiões foram vetadas de participar do evento, conforme a lista abaixo. Isso demonstra total centralização e barreiras de acesso para qualquer pessoa que quisesse participar.

Restringir a participação de certas regiões no processo de compra dos tokens de governança evidencia limitações de acesso, barreiras de entrada e censura. É um mecanismo totalmente excludente, nada democrático e nada benevolente, contrariando o lema da SingularityNET.

Distribuição dos Nodes

No Whitepaper da SingularityNET, está descrito que “qualquer pessoa pode criar um nó (um agente de IA), colocá-lo online (executando em um servidor, computador doméstico, robô ou incorporado a um dispositivo) e inseri-lo na rede para que ele possa solicitar e/ou cumprir tarefas de IA em interação com outros nós e se envolver em transações econômicas”.

Os nodes são conhecidos como Agentes de IA ou nodes de IA e misturam conceitos de áudio, vídeo e diversos formatos para a verificação dos dados.

Entretanto, por mais que os nodes possam ter os softwares executados em qualquer dispositivo, ainda assim são totalmente dependentes de grandes tecnologias como a Amazon Cloud.

No material para desenvolvedores do protocolo, fica claro que a única opção para rodar um nó da SingularityNET é executar um nó remoto (ETCD Cluster) conectado aos datacenters da Amazon (AWS).

Assim, não é possível distribuir a rede de hardwares, todos eles estão limitados e centralizados em datacenters de grandes empresas de tecnologia.

Isso torna o protocolo totalmente centralizado em termos de armazenamento e dependente de intermediários. Ou seja, é um teatro de descentralização e evolução tecnológica; a imagem e as afirmações de descentralização que aparecem no site do projeto são meramente ficcionais.

Para acessar a plataforma dos AIgents (nodes), é necessário se registrar.

Portanto, além das informações estarem fechadas e inacessíveis, os sites dos nodes são totalmente diferentes dos sites de “venda” do projeto e de divulgação.

Os primeiros têm um design e copy pobres, remetendo aos anos 90, enquanto os sites de venda são apoteóticos e voltados para o marketing.

Observe a diferença abaixo.

Site de “vendas” e publicidade:

Site para acessar infos dos nodes:

Será que isso também não reflete a discrepância entre a narrativa da SingularityNET e a realidade centralizada por trás do protocolo?

Ou seja, há mais investimento em vitrines e em parecer descentralizado do que em servir ao seu propósito primordial de ser, de fato, descentralizado, tornando tudo uma grande farsa?

Eventos e Riscos

A falta de fundamentos sólidos na SingularityNET (AGIX) surge desde o seu princípio.

O lançamento do protocolo foi vinculado a um robô de IA chamado Sophia, um trabalho de robótica extremamente realista que chamou a atenção da mídia mundial.

No entanto, Sophia não é uma IA, como o Dr. Ben faz parecer, e isso veio à tona. Sophia foi apontada como o futuro da IA, mas acabou sendo mais um experimento social disfarçado de golpe de relações públicas, conforme descreveu uma reportagem feita pela CNBC.

O chefe de IA do Facebook também descreveu Sophia, a robô, como “completa baboseira“.

Isso tudo porque Sophia não possui inteligência real. É um chatbot conectado a um animatrônico, um robô controlado por controle remoto que, na maioria das vezes, apenas repete frases pré-programadas por seus criadores.

Especialistas em IA e Robótica analisaram o GitHub de David Hanson, cofundador da SingularityNET, e descobriram que Sophia é, na verdade, um chatbot, e não uma IA.

O próprio Dr. Ben admitiu que Sophia não era exatamente uma inteligência artificial, mas sim um “belo trabalho de arte”.

Esse parece ser um comportamento padrão do Dr. Ben.

Na Webmind, sua empresa falida, ele também utilizou a robótica para justificar o financiamento para suas pesquisas de IA, misturando conceitos.

Antes de falir, ele justificou manter o financiamento para suas pesquisas de cérebro humano com a demonstração de um robô precário que perdeu peças durante a apresentação.

Veja o vídeo abaixo:

Ele não precisava criar um robô para pesquisar IA; um software, um programa de computador, seria suficiente. A robótica seria uma fase posterior para complementar os avanços em programação e algoritmos.

Aparentemente, na SingularityNET, ele recorre ao mesmo espetáculo de mecatrônica para misturar conceitos e confundir as pessoas sobre o que é e o que não é inteligência artificial.

A mesma mistura de conceitos ocorre sobre o que é e o que não é descentralização, só que agora não mais na Webmind, e sim na SingularityNET (AGIX).

Tanto Sophia quanto a SingularityNET (AGIX) são trabalhos de marketing e robótica e não de inteligência artificial de fato descentralizada.

Howey Test

O Teste de Howey é um critério clássico para determinar se um projeto é uma empresa ou não.

Se um ativo envolve investimento de fundos em um empreendimento comum com a expectativa de que todos os ganhos venham dos esforços desse grupo, então é considerado um valor mobiliário, uma empresa. Assim, se o projeto atender a todos esses requisitos, o ativo está sujeito à regulação tradicional de títulos mobiliários.

Quando aplicamos o teste à SingularityNET (AGIX), chegamos aos seguintes resultados:

Envolve investimento de dinheiro?

Sim, o token AGIX, SDAO e diversos outros tokens do ecossistema SingularityNET tiveram ICO e financiamento privado.

É um empreendimento comum?

Sim, possui uma estrutura hierárquica onde a SingularityNET Foundation tem poder de decisão assimétrico. A equipe é formada por um grupo de pessoas que possui cargos C-level, como uma empresa.

Time C-level:

A SDAO também possui estrutura hierárquica e inclusive um CEO, Marcello Mari.

Há expectativa de lucro?

Sim, através de mecanismos de staking, onde o usuário recebe recompensas por deixar seus tokens em operações DeFi.

A pergunta que fica é: se o protocolo não utiliza PoS e sim PoR, por que a necessidade de staking? Para atrair investidores/especuladores através da expectativa de rentabilidade?

A SingularityNET Foundation também sugeriu expectativa de lucro em um recente documento em que misturam conceitos de balanceamento de portfólio com utilização de IA apenas para colocar o gráfico apontando para cima.

Não fica claro se estão falando em adoção ou em valorização, pois usam o termo “call” (opção de compra) e na descrição falam em “utilização em milhões”.

Uma dissimulação de sugestão de expectativa de lucro? Ou uma métrica de adoção confusa?

Expectativa de que os ganhos venham dos esforços do grupo?

A SingularityNET faz muito marketing e quem tem um setor de marketing são empresas, não protocolos.

Abaixo, a SingularityNET Foundation fez uma postagem contratando um executivo de marketing com experiência em cripto.

Lançaram também um programa de embaixadores para que as pessoas divulguem a marca em redes sociais e a defendam. Se há alguém criando programas de embaixadores, isso é uma ação de marketing, como empresas fazem, e não como protocolos funcionam.

No Discord, há inúmeros exemplos de influenciadores trocando seu poder de influência por tokens AGIX e SDAO e inclusive se oferecendo para financiar o projeto.

Além disso, no documento para seleção de embaixadores disponível no Discord da SingularityNET, há diretrizes sobre como os materiais precisam ser feitos, salientando que é uma entidade independente.

Como é independente se nos sites, no Discord e em todas as comunicações oficiais o vínculo é feito com a SingularityNET?

Airdrops também são usados como ferramenta de divulgação e marketing.

Contudo, só recebe airdrop quem tem um saldo mínimo de 10 AGI. Ou seja, não adianta prestar um serviço, também é necessário um aporte mínimo para ajudar a aumentar a demanda e valorizar os tokens dos criadores do protocolo.

Por tudo isso, conclui-se que a SingularityNET é um valor mobiliário irregular, uma empresa disfarçada de protocolo descentralizado.

É um empreendimento comum hierárquico, com investimento de dinheiro, expectativa de lucro com o avanço do trabalho do grupo que lidera o projeto.

É uma empresa.

Riscos: como a SingularityNET pode falhar?

A SingularityNET possui todos os riscos inerentes a protocolos centralizados que fazem uma salada de termos para falsificar competência.

Comprar AGIX significa estar sujeito a rug pulls, exit scams, liquidity scams, hacks e captura regulatória.

Além disso, há total confusão com o scam de afinidade praticado. O projeto se compara ao Bitcoin, afirma ser descentralizado e que o PoR é superior ao PoW, mas na prática, nada disso é verdade.

Essa comparação é apenas para enganar quem não está ciente das diferenças. Aqui está um exemplo:

Conclusão

A SingularityNET se posiciona como uma plataforma “benevolente” de inteligência artificial, mas enganar pessoas não é nada benevolente; é perverso.

A descentralização da SingularityNET é pura ficção científica. Mesmo com a mudança para um sistema de governança, a baixa distribuição de tokens SDAO e AGIX ainda manteria a centralização em insiders.

Além disso, os nós dependem de datacenters, e o poder de decisão está concentrado na Fundação SingularityNET e sua equipe. É uma empresa disfarçada de protocolo que usa palavras sofisticadas, mas poucos fundamentos técnicos.

Portanto, se você é investidor de AGIX ou de qualquer ativo deste ecossistema, é importante estar ciente dos riscos.

Espero que tenha gostado deste artigo e até a próxima!