Apesar do white paper do Stacks definir o protocolo como uma blockchain de camada um (L1) integrada ao Bitcoin, na prática, a comunicação em torno deste protocolo frequentemente o posiciona como uma camada dois (L2) do Bitcoin.

Essa discrepância inicial representa uma significativa contradição técnica e arquitetural.

Neste artigo, exploraremos o que é o Stacks e os motivos pelos quais ele é uma shitcoin.

Bora?!

O que é Stacks?

Stacks é um protocolo que estende as funcionalidades do Bitcoin, oferecendo contratos inteligentes e aplicativos descentralizados (DApps) ancorados na segurança da blockchain do Bitcoin.

Qual seu objetivo?

Essa abordagem tem o propósito de expandir o ecossistema do Bitcoin, permitindo uma maior flexibilidade e capacidades adicionais além das transações básicas.

Ou seja, o objetivo de Sacks é escalar Bitcoin através de sua rede.

Criação do Stacks

Originário do meio acadêmico, o Stacks começou como um projeto de doutorado em ciência da computação na Universidade de Princeton em 2013, inicialmente nomeado Blockstack.

Foi originalmente criado por Muneeb Ali e Ryan Shea. Um ano após sua concepção, o projeto se tornou uma startup incubada na plataforma Y-Combinator através da empresa Hiro, também fundada por Muneeb.

Financiamento do protocolo Stacks

O projeto levantou $76 milhões ao longo de quatro rodadas de financiamento privado, atraindo investidores de renome no mundo das criptomoedas, incluindo figuras como Naval Ravikant, Anthony Pompliano, Meltem Demirrors, Winklevoss Capital e Digital Currency Group.

Recentemente, o Stacks chamou atenção por ser o protocolo escolhido para a criação das CityCoins, tais como Miami Coin e New York Coin.

Contudo, em março de 2023, as CityCoins enfrentaram um declínio, marcado pela falta de liquidez e interesse diminuído, culminando na remoção das moedas de Nova York e Miami da listagem da exchange OkCoin, onde originalmente foram lançadas.

Equipe e organização do Stacks

Stacks é um projeto desenvolvido pela Hiro, uma empresa encarregada do desenvolvimento e das atualizações do protocolo.

Desde o início, o Stacks exibe uma abordagem hierárquica típica de startups, com uma estrutura organizacional que inclui posições de liderança como CEO e CTO.

Essa estrutura, operada através da Hiro, confere ao projeto uma característica mais próxima de uma empresa convencional do que de um protocolo descentralizado.

Fundadores do protocolo Stacks
https://www.hiro.so/about

Além da Hiro, a Stacks Foundation é outra entidade chave no ecossistema Stacks. Ela desempenha um papel fundamental na administração da marca e na gestão das comunidades, como indicado no site do protocolo.

Ecossistema do Stacks
Stacks Ecosystem

Enquanto a Hiro foca na gestão técnica, coordenação e captação de recursos, a Stacks Foundation concentra-se na comunicação, estratégias de marketing e interações com o público-alvo.

Funcionamento – Mecanismo de Consenso

Stacks opera utilizando um mecanismo de consenso inovador denominado Proof of Transfer (PoX), ou Prova de Transferência. Este mecanismo estabelece uma interação entre duas blockchains:

  • a blockchain Stacks
  • e a blockchain Bitcoin.

Na Prova de Transferência (PoX), os mineradores utilizam Bitcoin para gerar novos blocos na blockchain Stacks. Esse processo envolve o envio de Bitcoin em uma transação especial, que, por sua vez, qualifica o minerador para criar um bloco na blockchain Stacks.

O PoX mantém uma proporção de bloco de 1:1 com o Bitcoin, assegurando que as atividades na blockchain Stacks sejam paralelamente verificáveis na blockchain Bitcoin.

A cada novo bloco minerado na blockchain Bitcoin, um participante designado como “Patrocinador de Stack” transfere uma quantidade específica de Bitcoin para a Stacks Chain. Este processo de transferência busca estabelecer um consenso sincronizado entre as duas blockchains.

Após a confirmação da transferência de Bitcoin na rede Bitcoin, o bloco correspondente na Stacks Chain é “ancorado”, ou vinculado, à blockchain Bitcoin.

O objetivo aqui é permitir que Stacks herde a segurança do Bitcoin, uma vez que qualquer tentativa de alterar o histórico do Stacks exigiria a alteração da blockchain Bitcoin também.

Nesse mecanismo, os mineradores de Bitcoin também podem ser mineradores de Stacks, recebendo STX em troca de BTC. Além disso, aqueles que fazem stake de STX (stackers) recebem Bitcoin como recompensa por bloquearem seus STX.

Mecanismo do Proof of Transfer (PoX)
PoX

PoX e Escalabilidade

Devido ao fato de a blockchain Bitcoin ter um intervalo médio de 10 minutos entre os blocos, a blockchain Stacks também é afetada por esse ritmo.

Assim, para aumentar sua escalabilidade, o protocolo planeja implementar microblocos, permitindo que mais transações ocorram nos intervalos entre os blocos do Bitcoin.

Os smart contracts em Stacks são escritos na linguagem de programação Clarity, desenvolvido pela própria equipe.

Controvérsias sobre PoX

Mesmo com toda a retórica do Stacks de que sua segurança é apoiada pelo Bitcoin e, por isso, herdaria o mesmo grau de segurança da rede BTC, isso não significa muito, visto que ainda seria possível que alterações no protocolo acontecessem e que a segurança fosse comprometida.

A conexão do Stacks com o Bitcoin é limitada ao nível de verificação do histórico de transações, mas isso não garante em nada a segurança futura do Stacks. Afinal, é um protocolo com estrutura de rede, incentivos e propriedades que diferem totalmente do Bitcoin.

As transações em Bitcoin, usadas como consenso no Stacks, não garantem a segurança por si só.

Além disso, outro ponto crítico é a salada de fruta de termos.

Stacks utiliza PoX, só que na verdade ela funciona como PoB (Proof of Burn), onde as taxas das transações são queimadas, visando criar um suprimento deflacionário com o aumento da demanda por operações na rede.

Os validadores dos blocos deste protocolo são chamados de mineradores, mas eles não fazem prova de trabalho (PoW), como os mineradores do Bitcoin fazem.

A terminologia de funcionamento mistura muitos conceitos deliberadamente e os manipula para encaixar na sua retórica.

Portanto, os mineradores de Stacks não fazem prova de trabalho, a segurança não está apoiada no Bitcoin e isso não torna Stacks uma camada dois do Bitcoin.

Supply e Distribuição dos Tokens STX

Stacks possui seu próprio token nativo, o STX. Ele é usado para pagar recompensas e taxas das transações na blockchain e para votar em propostas de melhoria do protocolo.

Quando a primeira versão do protocolo foi lançada em novembro de 2018, cerca de 1.32 bilhão de STX foram criados.

Grande parte dos STX foi para os fundadores, insiders, investidores e entidades predeterminadas desde o inicio, por meio de pré-mineração. Ou seja, os tokens foram criados antes mesmo do primeiro bloco via consenso rodar. Esses tokens foram distribuídos em ofertas entre 2017 a 2019.

A figura abaixo apresenta a distribuição dos tokens do bloco genesis.

Distribuição dos Tokens STX
Stacks White Paper

Limite de unidades STX

O Stacks possui um limite para o número de unidades que podem ser criadas, e esse limite sofreu alterações ao longo do tempo.

Inicialmente, o limite era estabelecido em 2,040 bilhões de tokens STX. No entanto, com a implementação da atualização V2 em 2021, esse limite foi ajustado para 1,818 bilhões de STX, a serem atingidos até o ano de 2050.

Ou seja, 1.3 bilhões de STX foram criados no bloco gênesis, mas a queima de tokens através das taxas de processamento irá reduzir a quantidade de tokens circulante ao longo do tempo.

O supply total circulante de Stacks sempre foi muito confuso e mudanças foram feitas depois de todo o mecanismo de consenso ter sido desenhado, como o fundador Muneeb demonstra no fórum do protocolo onde ele anunciou a atualização.

Atualização de Muneeb, anunciada no fórum do protocolo

De acordo com o white paper atualizado, foi determinado um novo cronograma de emissão de novos tokens STX em que a cada quatro anos a emissão de novos tokens é cortada pela metade.

  • Ano 0-4: 1000 STX / bloco
  • Ano 4-8: 500 STX / bloco
  • Ano 8-12: 250 STX / bloco
  • Ano 12 +: 125 STX / bloco

Dessa forma, ao chegar no ano 2050 a emissão de novos STX será limitada a 125 STX por bloco e, em paralelo, as taxas das transações serão queimadas para chegar no limite de 1.818 milhões de STX.

mineracao tokens
White Paper

Este esquema de emissão favorece de maneira assimétrica os criadores e fundadores do protocolo, que receberam inicialmente esses tokens sem custo. Portanto, eles têm a capacidade de serem stackers do protocolo com esses tokens e, assim, podem receber maiores rendimentos em BTC devido a esse privilégio inicial.

Atualmente, o supply circulante de Stacks é de 1,3 bilhão de tokens, e o objetivo é reduzir essa quantidade, queimando tokens, até alcançar o limite de 1,818 bilhão.

Protocolo totalmente centralizado

Se a governança do protocolo é feita através dos tokens STX, e eles estão concentrados nas mãos dos recebedores iniciais, então o protocolo tem sua governança totalmente centralizada em fundadores, investidores e insiders do projeto.

A distribuição inicial pré-determinada dos tokens STX, realizada antes da ativação do bloco gênesis, centraliza o poder decisório nos participantes que receberam esses tokens inicialmente. Essa centralização abre espaço para que mudanças sejam implementadas de cima para baixo, da mesma forma como empresas fazem.

Além disso, tendo em vista a mudança anterior no supply e a centralização do poder decisório, surge a questão:

O que impede uma futura modificação do supply para fins de expansão monetária?

A imutabilidade da política monetária é um dos aspectos que distingue o Bitcoin das moedas fiduciárias. O Stacks, por outro lado, parece estar recriando o sistema fiduciário por meio de intervenções na sua política monetária.

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Distribuição de Nodes e Mineração

A “mineração” de Stacks também é bastante centralizada. Há apenas 7 mineradores ativos nos últimos 100 blocos e, nas configurações do explorador da rede, não está visível a atuação de mineradores anteriores.

A, e é importante ressaltar que não estou falando de grandes pools de mineração que aglutinam poder computacional para ter mais chance de minerar um bloco, são mineradores avulsos mesmo.

O último bloco, por exemplo, teve apenas 6 mineradores competindo para minerá-lo. É um número extremamente baixo e isso representa a baixa demanda por se tornar um minerador da rede.

A teoria dos jogos atual do Stacks foi projetada de uma forma que não estimula a adesão de mineradores. Mineradores desejam utilizar seu poder computacional para adquirir um ativo valioso. Porém, a troca de seus BTC por STX, que possui propriedades inferiores ao Bitcoin em termos de descentralização e segurança, desestimula essa troca (trade off).

O mecanismo de consenso do Stacks baseia-se na premissa de que mineradores irão vender BTC para obter STX. Logo, se o STX se mostrar inferior ao BTC em múltiplos aspectos, não existirão incentivos suficientes para essa troca, e a rede não terá mineradores em número adequado para manter sua descentralização.

E é exatamente isso que está acontecendo atualmente.

Esse mecanismo está incentivando um tipo de ataque que torna a mineração menos lucrativa para mineradores com menos volume de tokens STX e centraliza o poder de validação e lucratividade para o minerador mais poderoso.

Ou seja, um minerador poderoso, que minera grandes quantidades de Bitcoin na rede PoW, pode realizar um ataque na rede Stacks. Vendendo grandes quantidades de BTC, ele consegue centralizar em si a criação de blocos na rede Stacks e, consequentemente, receber a maior parte do Bitcoin enviado de volta aos Stackers.

Esse ataque foi recentemente detectado pela F2Pool, e mais detalhes são explicados mais a frente.

As soluções propostas no white paper também tendem à centralização, pois sugerem a existência de um conjunto de mineradores confiáveis que não realizariam esse tipo de ataque.

No fim das contas, se apoiar no bom senso e confiar em terceiros nunca foi uma solução viável quando se fala em descentralização, não é mesmo?

xBTC e sBTC

Além de tudo isso que mencionamnos, a rede Stacks não possui uma ponte (bridge) para criar BTC sintético.

O protocolo utiliza o xBTC, um derivativo custodiado pela Anchorage, um emissor intermediário que guarda Bitcoin nativo e emite tokens derivados em troca. Isso reintroduz o problema de confiar em intermediários nas aplicações onde o xBTC é usado. Afinal, o xBTC não é Bitcoin; é um token que segue as regras da blockchain Stacks e não da blockchain Bitcoin.

Paridade de preços não reflete paridade de propriedades

No ano de 2023, a Stacks lançou o sBTC, um BTC sintético também criado na blockchain Stacks, na paridade de 1:1 com o BTC. Seu valor é mantido através de incentivos econômicos envolvendo o token STX.

No entanto, isso também apresenta riscos, já que os Stackers de STX são responsáveis por assinar transações de saída e manter a paridade BTC:sBTC em troca do rendimento em BTC recebido dos mineradores de Stacks.

Os mineradores seriam incentivados a seguir a blockchain canônica do Stacks em troca de recompensas por bloco em STX e taxas de transação. O limite de oferta do sBTC é definido em 60% do valor total de todos os STX em staking, para evitar que um atacante prejudique a rede, já que teria prejuízo ao assinar transações inválidas.

A oferta é determinada pela taxa de câmbio BTC/STX, usando a média móvel de 90 dias. Assim, se o valor do sBTC ultrapassar 60% do valor de STX em stacke, a emissão será suspensa até que outras solicitações de saque sejam processadas. Esse é um método viável para remover a dependência de intermediários centralizados, como a Anchorage, mas há riscos.

Colpaso Terra Luna

O colapso de Terra Luna demonstrou como algoritmos que estabelecem paridades de derivativos podem ser manipulados e explorados por meio de hacks, bugs ou até mesmo corridas bancárias (bank runs).

Nesses casos, um stacker com 70% do valor total poderia assinar transações de saque, manipular a taxa de câmbio BTC/STX ou criar um fork malicioso da blockchain Stacks.

Se o sBTC estivesse ativo durante o bug de centralização da mineração que ocorreu em abril de 2023, o impacto sobre Stacks poderia ter sido muito mais grave.

Problemas recentes do protocolo

Em 19 de abril de 2023, Stacks enfrentou um bug crítico que calculou erroneamente a quantidade de STX em staking em um endereço.

Com este bug, a carteira acumulou mais de 15 BTC em pagamentos a mineradores entre 10 e 30 de abril, antes da equipe principal do protocolo decidir por queimar os pagamentos dos mineradores e desbloquear todos os STX em staking.

Se a quantidade de STX em stake ultrapassasse o total do fornecimento líquido, os nós entrariam em um estado irrecuperável. Portanto, ao contrário das redes PoS, onde os stackers podem ser penalizados, o desincentivo ao comportamento inadequado é apenas a perda de recompensas em BTC, uma medida pouco eficaz contra ataques.

Esse incidente intensificou as críticas ao cenário de mineração de Stacks, que já enfrentava problemas de centralização e censura há mais de seis meses.

O direito de anexar o próximo bloco na rede é determinado com base na quantidade de sats enviados pelo minerador. A F2Pool, um dos maiores operadores de pool de mineração de BTC, com cerca de 16% do hashrate da rede Bitcoin, também é um minerador de STX.

E é ai que mora o centro do problema.

Centralização e Censura na Mineração de Stacks

A F2Pool tem censurando transações em blocos Bitcoin provenientes de mineradores concorrentes no protocolo Stacks, monopolizando assim a recompensa por bloco em STX.

Mineradores da rede Bitcoin geralmente não censuram transações. No entanto, incentivada por ganhos maiores, a F2Pool simplesmente excluiu transações de outros mineradores de Stacks ao construir seus blocos na rede Bitcoin, ignorando transações de concorrentes.

Em seguida, incluiu apenas suas próprias transações no bloco minerado, garantindo que apenas a F2Pool ganhasse as taxas e recompensas em STX, independentemente do número de sats enviados. Ou seja, utilizou as regras de ambas as blockchains para seu próprio benefício.

Isso não afeta diretamente a rede Bitcoin, mas expõe como a teoria dos jogos do consenso de Stacks é frágil e fraca. Mineradores sempre buscarão atender aos próprios interesses, e se for mais lucrativo centralizar a rede, eles o farão. O mecanismo de consenso deveria impossibilitar tal ação.

O F2Pool chegou a receber cerca de $640 por apenas alguns dólares toda vez que minerava um bloco em Stacks. Esse evento revelou uma quebra de consenso, onde mineradores aumentaram seus rendimentos em staking, censuraram concorrentes e criaram uma força centralizadora na produção de blocos PoX.

De setembro de 2022 a março de 2023, o F2Pool controlou entre 70-100% do poder de mineração de Stacks.

Mesmo que um novo minerador começasse a minerar blocos, o F2Pool poderia criar um bloco irmão para invalidar o bloco Stacks original e privar o minerador original de suas recompensas em STX, criando um fork malicioso.

O site Stacks Dump demonstra os momentos em que o consenso de Stacks foi quebrado por esses eventos, representados nas linhas vermelhas.

Momentos em que o consenso de Stacks foi quebrado

Novamente, isso não é uma falha do Bitcoin, mas sim uma brecha no mecanismo de consenso da própria Stacks, que não considerou que os incentivos da rede seriam usados contra ela.

Propostas de governança e da Stacks Foundation

propostas de governança em votação para tentar coibir ações como as da F2Pool, mas elas também não garantem que o minerador centralizador desistirá de seu monopólio na rede Stacks.

Afinal, os pools de mineração e seus mineradores que inserem transações bitcoin nos blocos minerados têm outros interesses além de minerar bitcoin, incluindo a extração de benefícios paralelos de outras redes.

Isso não afeta a rede Bitcoin, mas sim redes com sistemas de incentivos menos resistentes à censura, como a própia Stacks.

Recentemente, a Stacks Foundation lançou propostas para mitigar a censura de transações, mas também não há garantia de que outras quebras de consenso não possam ocorrer.

Esta estratégia de mineração foi chamada de esquema Bitcoin MEV (Miner Extractable Value) e provavelmente necessitará de mais mudanças no consenso e hard forks.

Reorganização de blocos

Outro evento crítico que tem acontecido é a reorganização de blocos decorrente de configurações de nós (nodes) abaixo dos padrões e problemas de conectividade.

Essas reorganizações, conhecidas como reorgs, podem levar à remoção acidental de mineradores da rede ou à redução da taxa de transferência que eles recebem. Quando ocorre um reorg, alguns blocos são abandonados pela rede, resultando em uma diminuição na receita dos mineradores.

Até o momento, o problema permanece sem solução.

A equipe responsável pelo Stacks emitiu uma declaração informando que a atividade observada não parece ser mal-intencionada e que eles continuam buscando maneiras de prevenir e lidar com esses eventos, visando manter a estabilidade e a eficiência da rede.

Compliance

Stacks também foi o primeiro projeto a receber uma qualificação da SEC para fazer venda de tokens nos EUA.

Qualificação da SEC
https://www.sec.gov/Archives/edgar/data/1693656/000110465919039476/a18-15736_1ex1a13tstwtrsd43.htm

De acordo com a equipe de Stacks, essa situação coloca o projeto em uma posição legal significativamente à frente da maioria dos outros tokens.

No entanto, por outro lado, destaca o quanto a busca por conformidade com os reguladores evidencia a centralização do protocolo e o risco de captura regulatória.

Embora a equipe insista que isso não classifica o STX como uma security, a legislação parece indicar o contrário. Meses depois, a própria equipe declarou publicamente que o STX não era mais considerado uma security.

Contudo, a SEC ainda não se pronunciou a respeito.

Muneeb Ali posta que Stacks não é mais tratada como Security
https://blog.blockstack.org/stacks-cryptocurrency-securities-filing 

Quem tem poder de decisão para mudar o protocolo Stacks?

Em 19 de abril de 2023, o protocolo Stacks passou por uma atualização emergencial devido à centralização e censura no caso F2Pool, que mencionamos anteriormente. Como resultado, foram realizados DOIS hard forks.

Esta atualização ilustra a existência de uma hierarquia de poder dentro do protocolo.

A necessidade de implementar dois hard forks emergenciais de forma tão rápida indica uma centralização no processo decisório. Isso também revela como os incentivos da rede foram negligenciados na concepção do consenso, fazendo com que a “falta de tempo para debate” se torne uma justificativa para suprir o desalinhamento de incentivos existente antes mesmo da criação do primeiro bloco.

Esses hard forks resultaram em um protocolo não retrocompatível, o que, por sua vez, exclui do consenso da rede os usuários que não concordam com a atualização.

Mais uma vez, evidenciando o teatro de descentralização.

Pontos de risco: como Stacks pode falhar?

A centralização da rede torna Stacks passível de rug pulls pela própria equipe gestora, ataque de 51% por mineradores malignos ou por captura regulatória de reguladores.

As diversas falhas de consenso também são janelas de oportunidade para hackers e bugs.

Quem compra STX atua como liquidez de saída (exit liquidity) para que os detentores originais, que receberam os tokens sem custo, como os fundadores, possam vender seus tokens ao varejo.

Ou, pior ainda, utilizam os tokens STX criados do nada para deixá-los em staking e receber BTC de usuários menos cientes desse mecanismo. Assim, os usuários se tornam uma fonte de liquidez para os criadores do protocolo, seja através de BTC ou pela venda direta em fiat nas exchanges.

Por fim, o Stacks se autodenomina um protocolo de camada 2 do Bitcoin, quando, na realidade, não propaga Bitcoin, mas sim STX/xBTC/sBTC. Ele dissemina tokens que aderem às propriedades da blockchain Stacks, e não da blockchain Bitcoin.

O protocolo em nada não contribui para a escalabilidade do Bitcoin, utilizando-o apenas como uma ferramenta retórica oportunista em sua estratégia de marketing.

É por isso que o Stacks é um affinity scam, um golpe de afinidade, que se beneficia da confusão de termos e do limitado entendimento técnico dos usuários sobre o que significa ser descentralizado.

Howey Test

O Stacks atende positivamente aos 4 critérios do Teste de Howey, que busca identificar se uma iniciativa é uma empresa ou não.

1. Deve haver investimento de dinheiro

Sim, o Stacks realizou diversas ofertas privadas para investidores e venture capitals. Ele surgiu em uma incubadora de startups e realizou rodadas de investimento seed, series A, B através da Hiro, empresa que gerencia e coordena o projeto.

Financiamento do protocolo Stacks, por meio de investidores
Financiamento

2. Deve ser uma empresa comum para lidar com o dinheiro

Sim, ele possui uma hierarquia organizacional que opera por meio da Hiro.

Assim, ele tem cargos C-level e lideranças que centralizam o poder de decisão e funciona como uma holding, onde Hiro e Stacks Foundation desempenham papéis complementares.

Fundadores C-Level do protocolo Stacks
https://www.hiro.so/about

3. Deve haver uma expectativa de lucros

Sim, o protocolo oferece rendimentos por deixar tokens STX em staking, o que incentiva os mineradores a venderem BTC para adquirir STX e receberem de volta a rentabilidade em BTC.

Há até ferramentas que quantificam essa expectativa de lucro anual.

Rendimento para usuários deixarem STX em stack
Staking Rewards

4. Lucros derivados dos esforços de outros

Sim, a Stacks Foundation é responsável pela gestão do marketing do Stacks, sua comunicação e contratação de equipe. Além disso, o protocolo é resultado de um rebranding da Blockstack.

Quem realiza rebranding, ações de marketing, patrocina eventos e produz conteúdo em redes sociais? São protocolos descentralizados ou empresas?

Afinal, nunca vimos a internet ou o email patrocinarem nada, realizarem rebranding ou terem CEO, pois são protocolos, e não empresas.

Conclusão

Stacks revela uma centralização acentuada, enquanto promete uma descentralização progressiva. A verdade é que o protocolo se torna cada vez mais dependente da intervenção de seus criadores, insiders, investidores e terceiros confiáveis.

Afirma ser uma camada descentralizada do Bitcoin, mas não é.

Sua descentralização é inexistente, assim como seu vínculo com Bitcoin não é recíproco.

Stacks precisa do Bitcoin, mas o Bitcoin não precisa dele para escalar, ao contrário do que sugerem as campanhas da Stacks Foundation.

Além da falta de descentralização, os bugs de consenso representam um risco à segurança do protocolo. O Stacks tenta resolver vários problemas complexos simultaneamente, mas ao intervir no consenso, acaba centralizando ainda mais o poder de decisão.

Ou seja, Stacks surfa a onda de DeFi, NFTs e Web3 impulsionada por outros protocolos e tenta transmitir uma falsa sensação de segurança ao basear seu consenso em transações de Bitcoin. Além disso, não consegue alcançar a descentralização, pois toda a sua estrutura de incentivos aponta para uma centralização ainda maior.

Assim como nem tudo que brilha é ouro, nem tudo que se baseia no Bitcoin é descentralizado, seguro e resistente à censura como ele.

Esteja ciente dos riscos caso você esteja exposto à esse protocolo.

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Escrito por
Imagem do Autor
Carol Souza

Carol é uma das principais educadoras de Bitcoin no Brasil. Ela participou de seminários para desenvolvedores de Bitcoin e Lightning da Chaincode (NY) e é palestrante em conferências sobre Bitcoin ao redor do mundo.

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